Estamos tão acostumados a nomear, classificar e rotular o mundo à nossa volta. Nomeação que se faz necessária para a comunicação verbal tão essencial dentro da sociedade.
Temos a comunicação corporal, que comunica muito do nosso mundo interno e sua relação com o ambiente. Evoluímos e temos também, a comunicação verbal, além da corporal. A linguagem oral e escrita pode comunicar teorias, ideias, hipóteses e ir além do que se pode passar através do corpo.
No entanto, o quanto nos perdemos na linguagem verbal? O quanto deixamos de lado e até negligenciamos o corpo? E o quanto nos limitamos pela nossa percepção do significado das palavras?
Quando dizemos uma palavra, necessariamente imaginamos o que ela significa. Ao momento que você lê “uma banana azul”, você também a imagina. A sua consciência foi capaz de criar essa imagem, apesar de você nunca a ter visto. Isso é simples quando falamos de coisas concretas e palpáveis. Mas e os conceitos mais abstratos? Justiça, amor, consciência, energia, Deus, entre outros?
Certamente, cada um tem um conceito diferente de cada coisa, e não há nada de errado nisso.
Mesmo as pessoas com as percepções e crenças mais parecidas sobre um determinado assunto, sempre podem divergir em algum ponto. Assustar-me-ia se fosse diferente, pois isso apenas refletiria a limitação de pensamento dentro de um universo infinito em possibilidades e profundidade.
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Ninguém enxerga o todo. Ninguém sabe da verdade absoluta e esse é o desafio mais interessante que se pode imaginar. Podemos aprender o quanto for e ampliar cada vez mais o nosso horizonte.
Acabamos por perceber, então, que Sócrates tinha razão com a sua famosíssima frase “Só sei que nada sei.”. Parece um paradoxo, se olharmos para o fato de que quanto mais sabemos, mais percebemos que nada sabemos. Mas a percepção de mundo não deve se limitar apenas ao mundo racional. Os símbolos podem nos levar a certas ideias que podem soar muito mais complicadas, se explicadas concretamente. E não se engane, o mundo simbólico não é algo inventado pelo homem. Ele foi descoberto e faz parte de você.
Cada ser humano carrega dentro de si um mundo que fala nas linguagens mais diversas e criativas possíveis. Como, por exemplo, através dos sonhos.
Carl Gustav Jung foi um dos grandes nomes da psicologia. Ele estudou diversos assuntos e teve a capacidade de conectá-los magistralmente. Jung foi uma pessoa de intelecto e sensibilidade do mais alto nível. A sua capacidade de passar para a linguagem verbal tudo o que ele percebia, sentia e aprendia deixou um legado para toda a história. Não apenas genial, ele fez também um trabalho muito importante, ainda mais para a sociedade ocidental, tão desconectada de sua própria consciência. O homem contemporâneo não aprende, não sabe e, consequentemente, não tem capacidade de interpretar os símbolos e suas representações. Não que isso seja uma tarefa fácil, mas é de extrema importância. Os símbolos são a linguagem da alma.
Podemos imaginar o paradoxo socrático explicado através de uma metáfora, que nada mais é do que um símbolo. Imagine que o conhecimento é uma ilha. O oceano em volta dessa ilha é o que não se sabe. O contato da ilha com o oceano, ou a circunferência da ilha, é a consciência daquilo que não se sabe. Ou seja, quanto maior for a ilha, o conhecimento, maior será a sua circunferência e o contato com o oceano, ou seja, maior será a consciência do que não se sabe.
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Tendemos a imaginar que o conhecimento é mero acúmulo de informações, formações e diplomas. Mas precisamos tomar consciência que existem vários tipos de conhecimento. Autoconhecimento também é conhecimento. E vai além, pois aquele que conhece a si mesmo, sabe quando e como aplicar as suas demais habilidades.
Voltando à linguagem verbal: O quanto se perde na transmissão de informação através da fala? A pessoa que pouco se conhece, sem capacidade de sentir o que é dito, fica presa a seu sentido pessoal das palavras. Lembrando que cada palavra tem um significado em comum social, porém, um sentido pessoal único para cada um. E aí, há de fato troca nisso?
O bom é que, da mesma maneira que a nossa crença não afeta ou muda o que é real ou verdade, nós não podemos nos responsabilizar por tudo o que se é entendido.
Podemos tentar nos comunicar da maneira mais clara possível, o resto é responsabilidade do outro. De fato, as pessoas que nos entendem nas entrelinhas, nos detalhes e na troca de olhares, são aquelas que chamamos de amigos.
Agora, a amizade, ah… aí cada um tem a sua linguagem. Ela não pode ser aprendida ou comprada. São aqueles que veem em nós o que outros não enxergam. O que percebem o imperceptível. E aqueles que entendem a nossa linguagem. Essa linguagem é questão de compatibilidade.
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E os nossos amigos, quando sinceros e capazes de apontar para os nossos erros de maneira construtiva, podem aumentar nossa ilha de tamanho. E se deixarmos, ainda mergulham com a gente nas profundezas do nosso oceano.
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