Vamos falar sobre calos. Isso, aquela parte da pele que se tornou grossa e rígida. Uma protuberância feia e insensível.
A dermatologia explica que eles são como uma resposta natural da pele a repetidos contatos, pressões e movimentos. Só não diz nada sobre para que servem os calos.
Eu tenho um desses no meu dedo maior, na mão esquerda, ele me acompanha desde que comecei a escrever. Sempre escrevi com muita força e pressionava lápis e caneta neste dedo, logo acima da unha, na primeira falange. Nunca gostei desse calo. Já tentei cortá-lo, roê-lo…. Hoje eu já me acostumei com ele. Aperto, aperto e não sinto nada.
Eu já não escrevo tanto, troquei o lápis pelo teclado, e nem por isso o calo diminuiu. Ele continua ali. Esses dias eu fiquei olhando para ele e percebi, então, para que servem os calos.
Esse calo me conta uma história. Ele me lembra do tanto que já escrevi. Dos tempos de escola, de fichário, de copiar rápido a matéria para sobrar tempo para conversar com os colegas.
Esse mesmo calo, feio, duro, foi muito importante para que eu fosse a pessoa que sou hoje. Eu trabalho com a escrita. Então, ele protegeu meu dedo para que eu pudesse continuar escrevendo sem sentir a dor da caneta pressionando a pele.
Foi então que eu passei a olhar para esse calo de uma maneira diferente. Ele nem é tão feio assim. Afinal, já faz parte de mim e me permite continuar a escrever, de uma maneira mais confortável, até.
Se olharmos para os calos como proteções necessárias, como um reflexo adaptativo, poderemos, então, ser mais gratos ao sentir menos as mesmas dores.
Eu me lembro que no primário, meu dedo doía muito quando eu escrevia. Eu não podia simplesmente parar de escrever para evitar a dor. Então meu corpo criou essa barreira natural.
Às vezes algumas dores esfolam o coração e também, muitas vezes, não dá para evitar.
O máximo é torcer para que o sistema imunológico-emocional crie algum calo, para amortecer a dor. Por mais calos no coração.
Direitos autorais da imagem de capa: wallpapermaiden / wallpaper/3017