Devemos cercar-nos de boas conversas, bons amigos, boas leituras, boas vibrações e evitar permanecer em ambientes que possam nos colocar em risco de sofrer um ataque do “mal”!
Santo Agostinho, em sua obra “Cidade de Deus”, mergulhado na dialética entre o bem e o mal, faz-nos refletir sobre uma questão fundamental para a sobrevivência humana: se o bem existe na sua essência e essa substância originou tudo, quem criou o mal?
Agostinho resolve esse paradoxo afirmando que o mal não existe como entidade, ou seja, ele não é fruto da criação, mas sim, simplesmente, da ausência do bem. Ou seja, na falta do amor, leia-se: o bem, o mal ganha o seu espaço.
Não obstante a complexidade dessa discussão, podemos perceber, notoriamente, que é uma questão de livre-arbítrio viver na plenitude do bem ou deixar o mal reinar nas lacunas das nossa vida.
Em meio a tanto desamor, inveja, ódio, falta de compreensão, paciência, desarmonia, mentira e assim por diante, estamos cada vez mais desacreditados, desesperançosos e decepcionados. A sensação de uma provável escassez, seja no mercado de trabalho ou dos recursos naturais, por exemplo, torna o mundo altamente competitivo, e essa batalha exacerbada tem nos transformado em seres humanos insatisfeitos, insensatos, infelizes e, como consequência, depressivos.
Dessa forma, como uma medida protetiva, fechamo-nos e esfriamos o nosso amor e confiança para com o próximo, tornando-nos cada vez mais céticos e introspectivos.
As armas que são utilizadas nesse ambiente reptiliano são as mais simples possíveis, do ponto de vista tecnológico, e não é preciso um software especial para esse fim.
Com uma simples fofoca sem fundamento, consegue-se atingir a nossa honra subjetiva e alterar a balança que mede os nossos valores e princípios. Quando o atacam com arma de fogo, por exemplo, você vê a pistola na mão da pessoa; mesmo indefeso, você vê de onde está vindo o perigo. Mas, quando o atacam com traição, injúria, calúnia etc., sobretudo num contexto de amizade, de confiança, a bala, aqui metafórica, invade intimamente os seus valores e nenhum médico, por melhor que seja, poderá operar você. Só o tempo, que é o grande curador e professor, fará com que você cure a ferida e, a partir desse momento, acumule experiências.
O problema é que, muitas vezes, como escudo lógico, você acaba desacreditado e completamente desconfiado, deixando ir embora o amor imáculo existencial por acreditar que o mal/maldade já se espalhou.
O ceticismo que paira depois de uma traição, seja de um colega de trabalho, seja de amigo ou seja em um relacionamento íntimo, sempre traz o mesmo resultado: passamos a olhar as próximas situações com muita cautela, muitas vezes, fechando-nos por precaução e, como consequência, deixamos de saborear o bem maior que Deus/o Criador/o Universo/o Vácuo quântico, como queiram chamar, regalou-nos. Dessa forma, a plenitude do amor, que cura e transforma todas as coisas, muitas vezes, é sufocada e mitigada em razão das atitudes irracionais e de extrema maldade que se instalam nos ambientes que nos circundam.
Mas será realmente que o bem já perdeu essa batalha? Será realmente que devemos acreditar que não podemos confiar em mais ninguém? A resposta para essas perguntas é simplesmente: não! Definitivamente, não. Não podemos deixar que essa sensação ganhe forma nos nossos dias.
Para todos aqueles que vivem sob a égide do amor, esse paradoxo é mais facilmente respondido, pois acreditamos que, por mais dolorosa que seja uma situação sofrida, ela é meramente o mal querendo entrar em alguma “lacuna” que deixamos aberta na nossa vida.
Portanto, devemos, sabiamente, cercar-nos de boas conversas, bons amigos, boas leituras, boas vibrações e evitar permanecer, mais do que o necessário, em ambientes que possam nos colocar em risco de sofrer um ataque do “mal”!
Dessa forma, abrimos menos lacunas, damos menos chances para que esses episódios desumanos cerquem nossa vida, fazendo-nos desacreditar no amor maior, que é a essência de tudo.
Direitos autorais da imagem de capa: Court Cook/Unsplash.