Ensaio sobre ser…
Amanhã. Ontem. Amanhã. Ontem. Um relógio interno que não para. Tic tac. Em um milésimo de segundo já voltamos ao passado e já pulamos para o futuro, difícil não se perder nessa viagem no tempo.
O presente passa batido enquanto pensamos no que fomos ou no que seremos. Um segundo já foi e o perdemos por estar nessa dança constante passado-futuro. Não aceitamos nossos erros e planejamos um futuro de perfeição.
Será que conhecemos quem somos ou estamos adormecidos pelas máscaras as quais criamos?
A estrada é longa e poderia ser um tanto mais simples. Focamos naquele detalhe onde nos equivocamos e esquecemo-nos de conhecer e reconhecer tudo o que carregamos dentro do peito.
Quantas vezes você já se perguntou “quem sou?” Quantas vezes escutamos essa pergunta e dizemos nosso nome, número de documento, profissão, menos quem realmente somos. E a pergunta fica ali pairando todos os cantos de vida enquanto não sabemos respondê-la. E ansiando o futuro e revivendo o passado, fica um pouco mais difícil encontrar a solução desse assombroso problema.
Sabe tudo o que nos é dito ao longo da vida sobre o que deve ou não ser realizado? Esqueça o máximo que puder. Sem se desconstruir as chances desse encontro interior são bem pequenas.
A gente vive em um mundo de regras. Sim, mais parece um jogo, onde somos contemplados a cada regrinha cumprida. A união delas é praticamente o início da máscara que vamos criando ao longo da vida.
Junte a isso alguns medos não resolvidos, algumas vontades sufocadas e voilà, máscara pronta. Começamos a viver uma vida para outrem e nada para nós. Não, não é caso de um ou outro. A maioria de nós está à mercê do sistema que nos rege e bem longe da vida que realmente apreciaria viver.
Não questionamos. Não discutimos. Apenas seguimos o padrão sem nos perguntar: “onde estou em todo esse universo?”.
Enquanto a pergunta permanece oculta, nossa verdade também está bem distante de se apresentar. Nascemos com um manual a cumprir, com um sucesso específico para buscar e uma estabilidade totalmente fictícia para ter como prioridade. Conquistas pessoais acabam virando satisfação de nossa vida ao outro e não uma vontade própria realizada.
É um plano desastroso de vida, todavia é a cartilha que adquirimos sem ao menos saber do que se trata. Por que será que o mundo parece cada vez mais de ponta a cabeça? Cria-se assim uma brecha, um grito de socorro de nosso próprio ser. Quanto mais longe estamos de quem somos, mais confusão se cria a nossa volta, essa que repercute e atinge tantos outros corações confusos. E adoecemos, pois não conhecemos e menos ainda entendemos tudo que se passa dentro de nós. Aceitar o que somos se transforma, neste quadro, numa realidade um tanto distante.
Chegou o tempo de escolher a si. Esse tempo é hoje, é agora. Precisamos cessar a viagem passado-futuro e olhar para dentro, lá encontramos as respostas. Lá vemos tudo o que precisamos aceitar, até o que queremos melhorar.
Sem pressa, sem ânsias, sem loucuras. A gente só cresce de verdade com amor e quando nos conhecemos o amor é inevitável. Quando aceitamos cada ponto e vírgula de quem somos e de nossa história, a vida flui melhor. E não apenas para nós e em todos que impactamos. É uma reação em cadeia que pode ajudar tanto esse mundo um pouco menos dessa loucura atual.
E esqueça essa mania de perfeição, ela atrapalha bastante que você enxergue todas as maravilhas e a potencializar esses defeitinhos que o tornam tão você!
E esqueça a perfeição mais uma vez, pois esse encontro não vai livrar ninguém de problemas e das dores do mundo, ele apenas fará com que você saiba tanto de si a ponto de lidar melhor com cada pedaço da estrada: os de alegria e os de tristeza. Quando estamos no agora, tudo é mais brando, mais leve, aprendemos a flutuar entre nossos erros e acertos. Aprendemos a hora do sim e a hora do não.
Conhecemos finalmente o limite entre se doar e se perder, marcamos saudavelmente nosso espaço e o do outro. Reconhecemos toda beleza que possuímos e valorizamos quem somos.
Encaramos melhor essa existência e entendemos que dentro de nós “vai, permanentemente, haver uma dança do medo com a esperança” (como canta Tó Brandileone). Ontem não se pode mudar, mas hoje podemos viver melhor.
Escolha você. Esteja presente. E o novo tic tac será: hoje…hoje…hoje…e dançaremos sem mais pré-ocupações.