Quando somos surpreendidos por uma desilusão, quando a credibilidade é posta à prova, quando vemos nossa preservação corrompida por alguém que já ocupou lugar de porto seguro, nunca mais estabeleceremos a mesma entrega e a permissão de entrada livre em nossas vidas.
Sempre digo que confiança perdida é como taça trincada, não tem reparo.
Criamos uma capa protetora contra o que já foi uma triste realidade, doeu e marcou de um modo, que recordamos sem nenhum entusiasmo. A gente já se curou, a ferida já foi fechada, são águas passadas, mas no fundo, a gente não esquece. Não vamos mais chorar pelo que foi derramado, mas pode ter certeza, não iremos nos distrair novamente de delicada prevenção contra quem fissurou nossa liberada concessão.
Confiar é outorgar alma desnuda, sem fiança ou garantias. É entrega com vendas nos olhos, sem um pé atrás e outro na frente.
Quando a gente confia realmente, não tenta se reservar para se poupar, não se omite para não se comprometer e nem dissimula para impressionar. A gente vai fundo, cai para dentro, acredita e não tenta paliar para se munir de defesa. E é nessa hora que muitas vezes, partimos a cara no chão. Não porque fomos fracos ao confiar, mas ingênuos por não saber identificar quem realmente irá nos salvaguardar.
Uma vez que sobrevivemos ao furacão da decepção que tudo arrasta, deixando um terreno devastado e o coração despedaçado, acabamos nos tornando vacinados contra certos perrengues. Passamos a identificar a quilômetros de distância, onde não devemos, jamais, nos sujeitar. Por outro lado, não é porque conhecemos o gosto amargo de promessas desfeitas, de mentiras deslavadas e de trincas que não podem ser restauradas, que vamos nos condenar a uma descrença absoluta.
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“É loucura odiar todas as rosas porque uma o espetou.”
Gosto de pensar que o mundo dá voltas, muitas voltas… e pensando assim, mesmo que um dia já fizemos papel de besta, que já apostamos em suposições, que enxergamos demais onde havia tão pouco, que já tenhamos dormido (tantas vezes) pensando que talvez o problema seja a gente mesmo, um dia ainda tudo isso será diferente.
Um dia não seremos alvo de manipulações, não precisaremos de tantas explicações, não adoeceremos por disponibilizar tanto, sem receber nada em troca.
Um dia poderemos nos desarmar e ficar. Evitaremos o recato, a indiferença, ousaremos não mais atuar. Iremos nos apoiar mesmo sem contratos, nos declarar sem caução e nos estender sem pudores. Um dia vamos expor nossos medos mais pavorosos sem receio de serem usados como trunfos.
Um dia brindaremos com taças de cristal, novas e intactas, e repousaremos na segurança e cumplicidade de alguém que saberá nos resguardar.
Alguém que confirmará que somos especiais o suficiente para sermos abonados e cuidados. E pode acreditar, esse dia cedo ou tarde, há de chegar!
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