Crônicas de padaria
Dia desses fui tomar café da manhã na padaria. Nunca faço isso. Mas naquela manhã meio fria, meio nublada, meio tristonha, deu uma vontade de tomar um leite quente com chocolate, de comer um pão com manteiga na chapa. De ouvir outras pessoas conversando e dando risada. De ver bigode de leite nos menininhos com a mãe enlouquecida tentando manter todo mundo sentado em volta da mesa. Deu vontade de voltar a ser criança com bigode de leite.
Então, fiquei lá escrevendo umas coisas que não podia deixar de fazer durante a semana. Renovar documento, atualizar cadastro, conferir o extrato do banco, comprar uns congelados para deixar no freezer, lavar o banheiro, trocar a roupa de cama. Umas coisas que a gente só pensa que tem que fazer, mas que dá para ir empurrando e a gente continua vivendo numa boa.
Lá na padaria tinha um tanto de gente junta. Meninada gritando, bebê chorando, velhinha dando risada enquanto contava para a amiga a última peripécia da hidroginástica.
Uns executivos de terno e pasta na mão engolindo café com pão para não atrasar na empresa. Uma garota fitness tomando um suco verde e mexendo no celular. Uma mulher lendo revistas enquanto o marido lia jornais. Um menino tirando selfies, um outro fazendo check in no Facebook da padaria para usar WiFi de graça.
Fiquei olhando tudo aquilo e pensando em como a vida vai passando. Em como cada pessoa é uma vida inteira, um emaranhado de experiências, de histórias, de fotografias, de notícias, de conselhos. Em como cada um ali tinha seu dia já preenchido com afazeres, trabalho, estudo, diversão. Em como a gente deixa de reparar no outro e só fica vivendo dentro da gente mesmo.
Em como não nos interessamos pela vida de quem está bem do nosso lado, tomando um pingado com pão. Não aquele interesse fofoqueiro. Não, esse não!! Mas aquele interesse de saber: como vai? Está tudo bem? Vai viajar? Vai sair de férias? Está gostando do emprego? Umas coisas assim…
Umas perguntas que fazem carinho por dentro, que fazem a gente se sentir especial, querido.
Não é só perguntar por perguntar. É perguntar para querer saber mesmo, é abraçar pra sentir o calor do coração, pra ouvir suas batidas, pra enxergar o lado de dentro que é sempre tão mais profundo e mais intenso que essa casquinha do lado de fora.
Por essas e outras, acho que vou começar a tomar café da manhã mais vezes na padaria…
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