“Em geral, as pessoas que morrem de medo da opinião alheia têm medo é de que os outros pensem o mesmo que elas pensam de si mesmas”. (Mark Manson)
Eu tinha acabado de entrar no ensino médio (é esse o nome ainda?) quando uma amiga me disse que um dos meninos mais populares da escola estava a fim de mim. No alto dos meus 15 anos recém-completos, poucas vezes na minha vida senti um desconforto tão grande como o que senti naquele momento.
Enquanto ela falava a respeito da conversa que teve com o tal garoto – e de todas as coisas legais que ele tinha falado sobre mim – tudo o que eu conseguia pensar era no quanto aquilo não tinha o menor cabimento. Por que eu? Quem era eu? Que brincadeira era aquela? Será que ele tinha apostado alguma coisa com alguém? Em que momento todos começariam a rir de mim?
Naquela época, por trás da imagem da estudante-certinha-perfeitinha-nerd-sem-graça que eu tinha construído, escondia-se uma autoestima que você só enxergaria se usasse uma lupa bem grande. Em alguns casos, nem assim. Durante a adolescência, as opiniões dos outros pesavam tanto em cada escolha que eu fazia que se você me perguntasse se eu gostava de café com ou sem açúcar, eu simplesmente não saberia responder (a propósito, descobri há alguns anos que eu só gosto de café com leite mesmo, obrigada).
O fato é que eu só conseguia enxergar o mundo a partir de um olhar bem estreito, embaçado por uma dezena de rótulos e mais rótulos que só serviam para me afastar das pessoas e me fazer prejulga-las a partir daquilo que eu mais detestava que fizessem comigo: o julgamento pela aparência (quem diria que, hoje, com quase 6 graus de miopia, eu conseguiria enxergar as coisas com muito mais clareza do que naquela época, quando os meus exames oftalmológicos eram excelentes! rs).
Naqueles tempos confusos, tudo o que eu mais queria aparentar – como segurança, confiança, autoestima, amor-próprio e por aí vai – colidia radicalmente com aquilo o que eu realmente pensava sobre mim mesma.
Além dos inúmeros problemas com o meu corpo e, mais especificamente, com o biotipo mignon que tanto me incomodava, eu estava bem distante de me achar uma pessoa interessante, apaixonante ou mesmo minimamente digna de ser notada.
Naquele comecinho de século XXI, não se falava tanto em bullying e coisa e tal, mas, ao mesmo tempo em que reconheço o quanto as outras pessoas podem ser absolutamente cruéis em nome de autopromoção, aprovação, necessidade de pertencimento e o que quer que seja, era eu a pessoa que mais bullying fazia comigo mesma. Para mim, era muito mais fácil perpetuar a certeza de que ninguém me achava atraente ou de que ninguém era capaz de reconhecer os meus talentos do que colocar isso à prova e descobrir se aquilo realmente condizia com a realidade.
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Quem era eu para chamar a atenção de alguém que, na caixinha de rótulos que eu havia criado, era “muito” para mim? O que as outras pessoas iriam pensar ou falar se soubessem dessa história? Será que também me ridicularizariam? Será que também ririam de mim?
Mais de 15 anos depois
Estou eu no banheiro do shopping, quando escuto um grupo de adolescentes, por volta dos 15 anos, comentando sobre dois personagens de uma comédia romântica que, ao que parece, namoram na vida real. “Mas ele é muito pra ela, não é?”, uma delas fala. “Nossa, demais”, gritam as outras. Ainda me equilibrando para não encostar no vaso sanitário, continuo escutando a conversa (e me sentindo com 15 anos de novo, embora com dores em todos os músculos da perna por causa do esforço). “Tem mulher que tem sorte, viu?”. E segue-se o papo. “Se um cara desses me chama para sair, vou achar que é pegadinha”, a outra diz. “E ele parece que tem o maior orgulho dela. Sortuda demais!”, alguém ressalta. “Demais”, falam em uníssono.
Saio da cabine, olho-me no espelho e, por um momento, lembro-me da menina que eu fui um dia. E de como eu já tentei desesperadamente me encaixar em padrões inalcançáveis de beleza e status para não ser considerada “pouco” demais para ninguém. Ou para não ter que escutar que eu tinha “sorte” por simplesmente ser aceita e amada do jeitinho que eu era.
Olho para aquelas meninas, com suas diferenças, seus sonhos, suas inseguranças, suas belezas, suas tantas necessidades de aceitação… e a minha vontade é de abraçar todas elas, sabe? E de fazê-las se olharem no espelho que mais importa também, o espelho de dentro, e enxergarem de fato o quanto a vida é muito mais do que um padrão imposto por quem quer que seja.
Eu quero dizer tanta coisa… mas, naquele momento, eis o que sai. “Se alguém não me chama para sair ou tem vergonha de mim só porque estou fora de um padrão de beleza considerado o “ideal”, tudo o que consigo pensar é que, realmente, esse alguém deve ser muito mesmo para mim”. Elas me olham surpresas, quase sem acreditar. E então eu concluo: “Muito babaca”.
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Saio saltitante do banheiro, de volta aos 15 anos, sentido-me sortuda demais exatamente por ser quem eu sou. E desejando do fundo do coração que as mulheres parem de se diminuir e de diminuir as outras mulheres também, porque a pior coisa que você pode fazer é se transformar naquilo que o(a) feriu.
Mais de 15 luzes que brilham
Em “A Return To Love”, Marianne Williamson escreveu um dos textos que mais impactou a minha vida:
“Nosso maior medo não é sermos inadequados. Nosso maior medo é não saber que nós somos poderosos, além do que podemos imaginar. É a nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos assusta. Nós nos perguntamos: ‘Quem sou eu para ser brilhante, lindo, talentoso, fabuloso?’. Na verdade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Você, pensando pequeno, não ajuda o mundo. Não há nenhuma bondade em você se diminuir, recuar para que os outros não se sintam inseguros ao seu redor. Todos nós fomos feitos para brilhar, como as crianças brilham. Nós nascemos para manifestar a glória de Deus dentro de nós. Isso não ocorre somente em alguns de nós; mas em todos. Enquanto permitimos que nossa luz brilhe, nós, inconscientemente, damos permissão a outros para fazerem o mesmo. Quando nós nos libertamos do nosso próprio medo, nossa presença automaticamente libertará outros”.
Nós somos espelhos.
Demorei muito para abraçar as minhas vulnerabilidades e me aceitar e amar apesar – e justamente por causa – de todos os meus defeitos, de todas as minhas marcas, de todas as minhas cicatrizes.
Quantas foram as oportunidades perdidas na vida só porque eu não me achava merecedora ou boa o suficiente?
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Por quantas vezes deixei de agir com autenticidade e de defender a minha verdade em função do que os outros poderiam pensar ou falar a meu respeito?
Por quantas vezes eu disse sim querendo dizer um não, ou disse não querendo dizer um sim, em nome do medo de não ser aceita, de não ser amada, de não ser respeitada, de não fazer parte?
Mas parte do quê?
De lugares que não tinham nada a ver comigo? De visões de mundo estreitas demais para enxergarem o tamanho infinito de todos os nossos sonhos?
Eu não sei em que momento você está na sua vida. E também não sei o que realmente você pensa sobre você mesmo. O quanto você se ama? O quanto você se respeita? O quanto você se valoriza?
No entanto, de uma coisa eu sei: nós somos espelhos, o que significa dizer que talvez o que mais me incomoda em você é justamente aquilo que eu mais preciso trabalhar em mim.
Há um ditado oriental que muito me inspira e que eu já nem preciso mais anotar, porque a consciência já sabe de cor, e que diz assim: “Incomodou, doeu, toma que é seu”.
O que me incomoda tanto em você e que eu ainda preciso curar em mim? O que eu consigo enxergar em você e que simplesmente ainda não consigo visualizar em mim? Com que olhos eu o vejo? Com que olhos eu me vejo?
Porque se a maldade está nos olhos de quem vê, a beleza
também está. E foi para ela que eu escolhi olhar. Mesmo que seja muito difícil, às vezes.
Direitos autorais da imagem de capa: wallhere / 1143053