É preciso ajustarmos o ângulo do nosso ponto de vista para enxergar as situações, como fazem as pessoas proativas, e não agir como as pessoas reativas.
Fernando Pessoa, com sua incontestável sapiência, convida-nos a pensar de lá do alto da arquibancada da nossa cômoda existência no quão conformados estamos diante de tudo que está acontecendo ao nosso redor. Nós nos acostumamos com tudo: violência, fome, desamor, corrupção, mentira, e assim por diante. Você deve estar pensando neste momento: eu, não!
Porém, permitam-me exemplificar para ver se nós nos encaixamos em alguma dessas ilustrações: quando lhe dizem que a criminalidade noturna aumentou, o que você faz? Com certeza, você evita sair à noite ou pelo menos sairá tomando muito cuidado. E quando ouve um noticiário sobre a fome? Lamenta e come o pão até o último pedaço, pois “tem muita gente com fome no mundo!” E o desamor? Quando vivemos uma desilusão na amizade ou no relacionamento, o que fazemos? Trocamos o amigo e terminamos o relacionamento, e ainda há quem diga: antes só do que mal acompanhado! E a corrupção? Essa então é tão comum que, quando pensamos nela, a primeira palavra que nos vem à mente é política, chegamos a votar dizendo: ninguém presta, mas é obrigatório! E quando somos nós que praticamos a corrupção? Ops! Quando somos nós os corruptos em busca de uma vantagem, o que fazemos não significa nada, tudo é válido, afinal nem prejudicamos ninguém! Poderia trazer aqui inúmeros exemplos de como nós estamos em constante estado de conformidade. Escondemo-nos atrás das máscaras da impotência e simplesmente arrodeamos o montinho de lixo, em vez de pegar a pá para recolhê-lo.
Estamos sentados assistindo às transformações negativas ocorrerem, às injustiças acontecerem, à criminalidade aumentar e, mais lamentável do que tudo isso: estamos em constante estado de cegueira social. Tenho certeza de que, neste exato momento, você esteja se perguntando: sim, mas o que eu posso fazer? Não posso mudar o mundo nem ser o xerife da cidade, muito menos sustentar toda a humanidade! Eu só posso driblar os problemas ou sentar para ver no que vai dar.
Destarte, nós nos habituamos a não fazer nada e hodierno vivemos não somente na tão conhecida era do consumismo, como também na era do conformismo desenfreado e nos sentimos completamente aliviados somente porque, aceitando isso, não precisaremos nunca “arrumar as malas”.
Se nós não nos sentirmos personagens desse filme da vida, seremos então somente meros espectadores.
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Da posição confortável em que assistimos ao jogo, achamos que a bola nunca vai nos atingir, até que um dia você é “a bola da vez”, então começam as lamentações. Vitimamo-nos, como se fôssemos os primeiros a sofrer no caos. Aí a ferida dói, a corrupção incomoda, as amizades tratadas como copos descartáveis e que foram trocadas e não recuperadas fazem muita falta…
É preciso ajustarmos o ângulo do nosso ponto de vista para enxergar as situações, como fazem as pessoas proativas, e não agir como as pessoas reativas. As pessoas proativas (PP) têm iniciativa, criam projetos que melhoram a qualidade de vida no seu bairro, importam-se com o lixo, com o próximo, doam parte do seu tempo pelo bem comum, catalogam os mais necessitados, reivindicam por eles, sabem exatamente quem é o “Sr. João”, o mendigo da rua… Essas pessoas não se vitimizam, ao contrário, cuidam das vítimas em potencial dessa sociedade tão capitalista.
E o que fazem as pessoas reativas (PR)? Elas esperam acontecer. Vivem em constante estado de torpor, só reagem se forem provocadas, não pensam em partir, portanto vivem aliviadas porque não precisam arrumar as malas. É o que acontece, infelizmente, com a maioria na nossa sociedade.
Para mudarmos, portanto, precisamos repensar os nossos conceitos, fazer uma varredura nas nossas crenças e arregaçar as mangas, pois a sociedade não está à parte de nós, nós somos parte dessa sociedade.
O mundo precisa, definitivamente, de mais pessoas “PP” e menos pessoas “PR”.
Porém, se me permitem citar o ilustre poeta Fernando Pessoa, que quase como um profeta previu esse comportamento quando disse:
“…Que prazer olhar para as malas fitando como para nada! Dormita, alma, dormita! Aproveita, dormita! Dormita! É pouco o tempo que tens! Dormita! É a véspera de não partir nunca!”
Parafraseando-o, eu acrescentaria: durmam, almas conformadas, durmam! Aproveitem, pois dormindo vocês não enxergarão os problemas, porém ainda assim poderão ser afetadas pelo fantasma da necessidade!
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