Certo dia, um amigo próximo a mim, lendo o título de capa de um livro que estava na minha estante, chamado “O caminho para a felicidade suprema”, contestou a existência da felicidade nesse patamar.
A felicidade não pode ser uma constância, disse ele. O que existe são momentos de felicidade e que assim como vêm, dando um profundo sopro de êxtase, vão embora de fininho sem a gente perceber. E insistiu: não podemos ser felizes o tempo todo porque temos compromissos diários e esses compromissos são chatos de encarar. Os momentos de felicidade que tenho, por exemplo, é quando encontro uns amigos e jogamos conversa fora entre uma cervejinha e outra.
Hoje, relembrando aquela cena, pensei no contrassenso que há no entorno da felicidade.
Todos a querem, mas nem todos a buscam, porque a têm como algo passageiro, distante, impossível.
Quando questionados se são felizes, se respondem positivamente geralmente acrescentam alguma limitação: às vezes, nem sempre, quase nunca. O verbo mais adequado para esse sentimento é o “estar” feliz e não o “ser” feliz.
Gosto da seguinte expressão “E se?”, pois acredito que quando refletimos temos a mania de colocar crenças limitantes e nos boicotar inúmeras vezes. Essa pergunta simples abre um leque de possibilidades e desmascara barreiras que nós mesmos impomos.
E se cada vez que eu fosse pagar uma conta, ao invés de resmungar na fila do banco eu agradecesse por estar ali e ter o dinheiro para pagá-la; e se ao invés de bater boca com meu chefe eu fosse grata ao trabalho que tenho no momento e fosse em busca de algo melhor? E se eu transmutasse meu sentimento de angústia pelas coisas que me faltam pela satisfação a tudo que já tenho?
E se eu agradecesse aos que me beijaram com amor e me proporcionaram um abraço caloroso ao invés de choramingar por estar solteira?
E se eu começasse a mudar meu ânimo ao acordar já na segunda-feira ao invés de começar a semana ansioso pela sexta? E se eu parasse de procrastinar aquela viagem dos sonhos, estufasse o peito e pensasse “Agora eu compro a passagem”? E se antes de apontar o dedo para os defeitos do outro eu olhasse pra dentro de mim e trabalhasse as minhas mazelas? E se houvesse uma felicidade que dominasse o mais profundo do nosso ser e fizéssemos sentir como se fosse inerente a nós e que só precisássemos encontrá-la?
Assim como adoro o “e se?”, eu não gosto do “porque é assim” ou das frases de efeito, que não sabemos de onde vieram, mas acreditamos como verdades e vamos repassando-as de geração em geração: compromissos são chatos porque é assim; devemos trabalhar no que dá dinheiro e não no que gostamos porque é assim; os homens não prestam; a vida é dura; isso é coisa para gente nova; se ninguém fez até agora, então é impossível de realizar.
Estamos vivendo como um pêndulo: remoendo o que já passou e com medo e ansiedade do que está por vir.
Um homem que não conhece o sol que há dentro de si caminha sem rumo, avança e recua; se consegue ascender, tomba em seguida. É o famoso piloto automático: acordar, dormir, comer, trabalhar, ter filhos e, um dia, morrer, sem muitas reflexões sobre a vida e com poucas relações profundas.
Desejo que você simplesmente seja você, sem nenhum adjetivo a complementar (rico, bonito, inteligente), mas que esse “você”, ao se olhar no espelho, perceba que a figura que ele reflete, hoje, esforçou-se para ser melhor ser humano que o de ontem.
Não permita que a felicidade esteja associada a um fator externo: a tão esperada cervejinha com os amigos no fim de semana, o carro dos sonhos a ser comprado, o relacionamento que você tem no momento, a chegada de um novo ano. A felicidade é sua, só sua, e é no agora que deve ser desfrutada.
E quando você começar a usufruir dela todos os dias perceberá que “ser” e “feliz” podem se tornar palavras redundantes.
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