Há 30 minutos: trovões, raios, nuvens escuras, tempo nublado, predomínio da cor cinza. Cinza escuro. As ondas do mar quebraram fortemente sobre mim, congelando-me. Fui engolido pelas águas. Afoguei e permaneci estático por um determinado período. Fui tomado pela insegurança e pela dúvida; por um certo instante, desconheci-me. O mar, meu velho amigo, parece ter se tornado um de meus piores inimigos.
Agora: tempo ensolarado, céu aberto, nuvens brancas, predomínio da cor azul. Azul turquesa.
Flutuo na superfície do azul, com movimentos calmos. Dissipou-se a dúvida e a insegurança, ou foquei em alguma outra certeza de que me lembrei (existem tantas!); reconheço-me.
O mar, meu velho amigo, reestabeleceu comigo uma relação de cumplicidade. Sinto, nitidamente, as ondas do mar indo e vindo…
Indo: o passado (cada vez mais distante), a instabilidade, a dúvida, a insegurança, o medo do naufrágio junto ao desconhecido. Vindo: o futuro (cada vez mais próximo), a estabilidade, o poder das escolhas, a sensação de terra firme mesmo em meio ao desconhecido. Esse mar, repleto de emoções, fragilidades e potencialidades, vive em nossa consciência, em nosso eu mais profundo. Diariamente, navegamos pelas mais diferentes sensações.
Ondas de momentos bem-sucedidos, seguidos daqueles nos quais nos sentimos fracassados.
Ondas de momentos de pura recepção de amor; seguidos daqueles nos quais recebemos indiferença. Ondas de momentos nos quais deixamos as portas de nosso ser escancaradas; seguidos daqueles nos quais permanecem entreabertas, ou até mesmo fechadas.
Ondas de momentos nos quais nossa aura está blindada; seguidos daqueles nos quais está aberta, vulnerável. Ondas de momentos nos quais sentimos ser o sol; seguidos daqueles nos quais passamos a ser a lua. Ondas de momentos nos quais impera a confiança e a segurança; seguidos daqueles nos quais a desconfiança e a insegurança querem falar mais alto. Ondas de momentos nos quais rimos de tudo e todos; seguidos daqueles nos quais parece sermos os únicos a não entender a piada. Ondas de momentos nos quais estamos no topo da montanha; seguidos daqueles nos quais passamos para o fundo do vale. Ondas de momentos nos quais somos pura emoção; seguidos daqueles nos quais migramos para a razão.
Lembrei-me da seguinte colocação do pensador Paulo Roberto Gaefke: Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado. A perda faz parte. A queda faz parte. A morte faz parte. É impossível vivermos satisfatoriamente.Precisamos aprender a perder, a cair, a errar e a morrer. Impossível ganhar sem saber perder. Impossível andar sem saber cair. Impossível acertar sem saber errar. Impossível viver sem saber viver. Se aprenderes a perder, a cair, a errar, ninguém mais o controlará. Porque o máximo que poderá acontecer a você é cair, errar e perder. E isto você já sabe. Bem-aventurado aquele que já consegue receber com a mesma naturalidade o ganho e a perda, o acerto e o erro, o triunfo e a queda, a vida e a morte.
Perceba: às vezes, as coisas precisam dar errado, para que em seguida voltem a dar certo. É esse ciclo que mantém as águas do mar de nossa consciência em movimento, num permanente ir e vir que nos estimula a desenvolver formas e mecanismos para lidar com os mais diversos tipos de eventos e ocorrências.
A vida é tão generosa que nos possibilita aprender, diariamente, como sermos pessoas melhores. Esse mar é nosso. Ele está dentro de nós. Mesmo em águas aparentemente desconhecidas, podemos (e devemos) navegar com segurança…
Aproveite para contemplar os detalhes ao longo dos mais inusitados trajetos, pois eles trarão conhecimentos valiosos sobre nós mesmos.
Com o tempo, vamos descobrindo como lidar com as ondas. Com o tempo, vamos percebendo, também, que podemos ensinar o outro a navegar nas águas do nosso mar, sem cobranças.
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