Psicanalista brasileira fez pesquisa que mostra relação entre mágoa e infarto.
Quantas vezes ouvimos de nossos pais, psicólogos, coaches e até mesmo das pessoas próximas sobre a importância do perdão? Com certeza, inúmeras!
O perdão é tratado como um pilar fundamental de uma boa vida, porque tira um grande peso de nossos ombros e nos permite recomeçar em paz com nós mesmos e nos dar uma nova chance de viver longe de tudo aquilo que nos magoou no passado.
Agora esse conhecimento que por si só nos faz viver melhor tem comprovação científica, e o melhor: brasileira! A psicanalista Suzana Avezum, que tem mais de 36 anos de carreira, apresentou em 2019, no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), o resultado de sua longa pesquisa que comprova a relação entre a dificuldade de perdoar e a ocorrência de enfarte agudo do miocárdio.
Suzana percebeu o quanto o perdão pode nos beneficiar emocionalmente e, baseada em sua experiência, decidiu fazer uma pesquisa para entender essa relação. O estudo, realizado entre 2016 e 2018, durante seu mestrado na Universidade Santo Amaro, teve como principal tema o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. “O relacionamento entre o perdão e o coração é bastante amplo, e não existem dados na literatura que apresentem alguns resultados que o meu estudo mostrou”, diz Suzana ao Jornal do Brasil.
A psicanalista avaliou 130 pacientes, de dezembro de 2016 a dezembro de 2018, os quais responderam a dois questionários elaborados por ela, com temas diferentes: um tinha como foco avaliar o quanto estavam abertos ao perdão e o outro tratava sobre espiritualidade e religiosidade, o que ela acredita que influencia na disposição ao perdão.
Os resultados mostraram que aqueles que tinham mais dificuldade de perdoar eram os que mais sofriam infarto agudo do miocárdio (IAM).
Em relação à espiritualidade e religiosidade, as pessoas propensas ao infarto tinham mais religiosidade organizacional e menos espiritualidade. “Talvez, nesse caso, uma religiosidade mais rígida traga mais dificuldade e menor disposição para conceder o perdão. A espiritualidade, por sua vez, aparece associada à maior disposição para perdoar”, conta Avezum.
Religiosidade organizacional representa o quanto a pessoa participa de organizações religiosas, como igrejas ou templos. Espiritualidade, por sua vez, é algo mais amplo, pois representa como a pessoa compreende e expressa o sentido da vida e como se conecta com o agora, consigo mesmo, com outras pessoas, com a natureza e o sagrado.
‘Em meu consultório, quando podemos trabalhar a mágoa e, consequentemente, a pessoa pode perdoar, o sentimento de alívio é sensivelmente observado. Dessa forma, vários sintomas são resolvidos. A hipótese é que as pessoas utilizam frases como ‘dói no coração’, e o inconsciente vai tratar de forma literal essa descrição. Possivelmente, isso provoca alterações no coração físico’, comentou a especialista.
Para Suzana, seu estudo é importante, porque mostra o quanto problemas de saúde poderiam ser evitados, se existisse investimento na prevenção através do perdão, visto que, de acordo com o DataSUS, o infarto agudo do miocárdio é a segunda maior causa de morbimortalidade no Brasil. “Imagine que se desenvolvam instrumentos nacionais que possam avaliar o perfil do brasileiro, com suas particularidades e características religiosas e espirituais específicas, para desenvolver programas de treinamento para o perdão. Possivelmente, programas de intervenção na população poderiam trazer redução na incidência do IAM e as consequências negativas dessa doença em toda a sociedade”, afirma a especialista.
“É importante ressaltar que ainda não existe uma evidência científica comprovada, mas os resultados são promissores.”
Suzana também acredita que, apesar de temas como esse serem polêmicos no meio científico, eles tendem a ter melhor aceitação devido à seriedade das pesquisas que estão sendo desenvolvidas.
A psicanalista tranquiliza aqueles que acreditam que é muito difícil perdoar. Em uma entrevista à revista Veja, ela explica que é possível aprender a praticar o perdão.
“É possível aprender a perdoar? Há profissionais especializados nisso, sobretudo nos Estados Unidos. Digo que é possível treinar. O primeiro passo é admitir que sentimos raiva, o que muita gente nega. Enfrente seus sentimentos. Depois pense em por que a outra pessoa fez o que fez. Coloque-se no lugar dela. E não necessariamente para estimular a reconciliação. É, repito, algo que você tem de fazer em benefício próprio. E digo mais: não é preciso esquecer a mágoa para conseguir perdoar. O normal é lembrar-se para o resto da vida do que causou a dor. Perdoar é pensar no problema não mais como um machucado, e sim como uma cicatriz. Ela está lá, mas não dói mais. Pense nas campanhas de cigarro. Depois de tantas ações que divulgaram que o hábito faz mal, as pessoas passaram a fumar menos. Tenho certeza de que, se houvesse campanha em favor do perdão, ele seria mais aceito.”
Uma pesquisa, sem dúvidas, muito interessante e que pode abrir as portas para avanços no tratamento da saúde emocional.
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