Mitos são narrativas simbólicas que tentam explicar a realidade, os fenômenos e os questionamentos humanos através de personagens e situações sobre-humanas.
Deuses, forças superiores e poderes são argumentos mais fáceis de apegar-se, pois desviam o foco da nossa responsabilidade pelos nossos próprios fracassos e angústias.
Um dos Mitos que eu acho mais interessantes é o de Midas, um Rei que diante de uma atitude benevolente e generosa recebeu o direito de ter um desejo atendido, qualquer um.
Movido pela própria boa ambição, desejou que tudo o quanto ele tocasse fosse transformado em ouro. E assim lhe foi concedido.
Aposto que Midas se divertiu com seu presente. Transformar objetos, paredes e móveis em ouro lhe conferia poder, satisfação e muita riqueza. Ora, qual o problema em transformar objetos, muitas vezes velhos, sem importância, no mais precioso dos metais? Dar mais brilho e valor, sem roubar nada de ninguém?
Porém, a mesma mão que dava a riqueza também dava a fome. Midas não podia comer ou beber nada. A inanição seria seu fim. A percepção do que era êenção agora já estava sendo avaliada como maldição. O simples toque, afago e carinho em sua primogênita – filha de seu amor – a transformara em uma estátua dourada.
Quantas vezes desejamos tanto uma pessoa, um relacionamento, um amor e acabamos destruindo quando “simplesmente” tocamos. No começo não acreditamos, então procuramos outros, tentamos de novo, e quando tocamos, também causamos destruição. Então nos damos conta de que não passamos de Midas na pós-modernidade.
A lição de Midas era sobre aceitar quem ele era e não desejar além do que podia. Toda e qualquer decisão leva o ser humano para um determinado caminho, que é sempre consequência dos seus atos.
Assim, o famoso rei foi, de forma clara, uma vítima das suas escolhas. Esta é a interpretação mais básica, mais clara do mito.
Por outro lado, a história leva-nos a uma problemática interessante. Jamais alguém gostaria de ter tal “poder”. Certamente que Midas faria tudo para reverter o desejo e ter sua amada de volta. E, se esse mito estava fadado a ter esse fim, então devemos considerar as Moiras. As três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os humanos.
Durante o trabalho, as Moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios do destino e assim controlam o presente, o futuro e a vida de todos.
Talvez os Mitos sejam mais reais que imaginamos e que existam Midas, da mesma forma que existam escolhas erradas, como também exista o destino.
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