Pelos jardins da vida, eis que o beija-flor e a abelha cortejavam a mesma flor. A abelha conhecedora de sua importância diante da vida e acreditando se tratar de um impasse, abriu caminho à força e avisou:
– O que faz o senhor junto à minha flor?
O pássaro, por ter aprendido que as flores não são de ninguém, preferiu continuar admirando o espetáculo à sua frente e ignorou o embate que a abelha travava sozinha. A pequena zumbia, reclamava uma posse imaginária e desmantelava suas asas, na vã esperança de interromper o encantamento entre flor e pássaro.
Diante de tanto ruído, o jardim permaneceu quieto e intacto.
Assim, acreditando que mais nada lhe restava, a abelha resolveu infligir o ataque final. Se tivesse sucesso, ela poderia magoar o beija-flor e assim, a flor seria apenas dela. O que esqueceu em sua ira, é que a única certeza que seu ataque letal garante é a sua própria morte. No segundo seguinte em que seu ferrão atinge o alvo, ela deixa de existir. Na tentativa de matar, ela morre.
O golpe desferido pode matar o belo pássaro, pode feri-lo e espantá-lo, pode fazê-lo mais forte. A abelha pode exterminar a vida à sua volta ou pode mostrar o quanto a vida é perfeita em sua imperfeição. Ela pode tudo ou não pode nada.
Não há certezas aqui. Todos os acontecimentos futuros ao ataque estão no campo das possibilidades. Ela nunca saberá a consequência do seu ato, pois seu ataque é tão voraz que ela terá apenas uma única chance de fazê-lo.
As mesmas abelhas que polinizam e levam vida ao mundo, podem matar, se assim o desejarem. É claro, que em sua infinita e natural sabedoria, elas preferem amar e dar vida a tirá-las. Em sua defesa, podemos dizer que seu poderoso ferrão é usado apenas para se defender de algum ataque que julga iminente. O intuito não é causar sofrimento. Mas, apenas deixar de sofrer. Neste último ato, o medo subjuga o amor. E quando o amor se esvai, a abelha age estúpida e cruelmente.
Quantas vezes agimos como esta abelha na vida? Quantas vezes atacamos para chamar atenção? Quantas vezes ferimos para nos “curarmos”?
Ao agirmos assim, estamos tal qual a abelha deste conto, que ao ver e reconhecer o amor, ao invés de admirar e aplaudir, resolveu queixar-se e subjugar, como se por disseminar a vida tivesse a posse dela.
Ao voarmos pelos jardins da vida, vamos polinizar a vida e espalhar o amor, ao invés de nos entregarmos a julgamentos e queixas e gerarmos dor.
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