Aprender como seu cérebro funciona é um dos pilares para viver melhor.
Aqui vamos ver um conceito fundamental, desenvolvido pelo pesquisador Daniel Kahneman, das duas formas de pensar utilizadas pelo cérebro chamadas de pensamento rápido e devagar, e como isso profundamente afeta nossa vida.
Veja aqui meu vídeo sobre este tema.
O primeiro sistema é o pensamento rápido, que tira conclusões rápidas baseadas em pouca informação e bloqueia outras considerações.
O segundo sistema é do pensamento devagar, que processa as informações correta e deliberadamente.
Dá trabalho pensar. Literalmente há mudanças fisiológicas, quando engajamos o cérebro mais profundamente. Por isso que dá preguiça pensar. O pensamento rápido, portanto, tenta evitar este “desgaste” de pensar seriamente. Isso pode dar certo para coisas corriqueiras, mas nos deixa vulneráveis a cometer erros que podem ter consequências sérias em nossa vida.
Aqui três exemplos marcantes dos erros que o sistema rápido nos levar a cometer, e como podemos acionar o sistema de pensamento devagar para superá-los.
Erros esses que podem mudar seriamente o rumo de nossa vida, nossas crenças e forma de agir.
1 – Não distinguimos facilmente entre algo familiar e algo verdadeiro.
Este é um ponto muito importante, muito impactante em nossa vida e nossa sociedade. Confundimos familiaridade com veracidade.
A cultura de comer animais é um bom exemplo. Ficamos tão familiarizados com o conceito de comer carne que ninguém questiona se isso é bom. Comer carne se torna uma necessidade, porque é “a verdade”, é o que “sempre fizemos”. Quando realmente paramos para pensar e analisamos os fatos, podemos ver que o conceito é absurdo, pois não gostamos de matar o maltratar nenhum bicho, e é uma péssima ideia em termos de nossa saúde, como inúmeras pesquisas nos mostram. Muitos, quando param para pensar, ou seja, engajam seu sistema de pensamento devagar, mudam sua dieta, ou ao menos colocam isso como uma meta desejável.
Outro exemplo é do campo da religião. Religiosos ficam martelando na cabeça de suas congregações que seu caminho é o único e o resto leva para o inferno. Os fiéis ouvem a coisa tantas vezes, literalmente a vida toda, que não questionam sua veracidade. Isso fomenta a intolerância religiosa e fanatismo, com terríveis consequências na história da humanidade.
A solução é parar e pensar. Faça um levantamento de suas crenças e seus hábitos e pergunte se está acreditando naquilo porque foi exposto àquilo a vida toda ou porque realmente é melhor para você, realmente é baseado em fatos e fundamentados pelo bom senso. Isso engajará seu sistema de pensamento profundo e devagar, fazendo analisar suas escolhas de forma inteligente.
2 – Medo de mudanças.
O medo de mudar molda nosso comportamento. Pesquisas mostram que temos duas vezes mais receio de perda do que interesse por ganho.
Esse é um dado muito utilizado por marqueteiros. Por isso, muitas campanhas políticas se transformam em campanhas de medo, com um político acusando o outro e nos dizendo que tal coisa horrível acontecerá, se o outro candidato ganhar.
O medo de perder o que temos faz com que não abramos novas portas e não adotemos novos hábitos.
O pensamento rápido faz com que sobrevalorizemos algo que é nosso. Ou seja, achamos que aquilo que está em nossa posse, que é nosso, vale mais do que outros acham. Em termos monetários, pesquisas mostram que avaliamos nossas coisas como se fosse duas vezes mais valiosas do que os outros acham.
Para engajar o pensamento devagar, o sistema mais deliberativo, podemos fazer essa pergunta: “que ganho eu teria se abrisse mão disso que estou segurando?”
Pergunte-se o que ganharia abrindo mão das coisas e dos hábitos que tem hoje.
Outro dia, uma pessoa deixou um comentário no meu canal do YouTube, explicando que tinha se sentido muito mal por ter sido demitido, sem explicação, de seu trabalho, apesar de trabalhar bem e intensamente. Mas que como resultado, ele viajou pelo país, mudou de cidade, “deixou os cabelos crescerem”, e agora se sente muito mais alinhado com sua essência, com seu dharma.
Quantas vezes nos prendemos a um emprego, uma cidade, um relacionamento, uma religião ou uma dieta que está nos limitando ou até nos fazendo mal?
3 – Estreitamento de visão.
O sistema de pensamento rápido quer evitar uso do cérebro, visto que o cérebro consome muita energia do corpo, muita glucose. É dito que o cérebro usa 20% de nossa energia corporal. E quando pensamos seriamente, é como pisar no acelerador do carro, vamos gastar mais.
E a melhor maneira de não pensar muito é pular logo numa conclusão. Para isso dar certo, temos que ficar cegos às alternativas.
Chama-se isso de estreitamento de visão. O sistema de pensamento rápido sempre quer nos levar para este lado. Pode-se perceber como isso é perigoso. Ao não analisar as escolhas, caímos em padrões dolorosos, fazemos escolhas ruins e deixamos de viver a vida plenamente.
A solução para superar este problema e acionar o sistema de pensamento devagar e deliberativo é se perguntar: “por que eu posso estar errado?”
Analise como chegou à conclusão atual, com chegou a enxergar as coisas do jeito que enxerga agora. O que o levou à conclusão errada?
Não é à toa que Krishna define conhecimento na Bhagavad-gita com uma série de qualidades, incluindo humildade.
Ou, como dizia Sócrates: “Só sei que nada sei”. Esta abertura nos leva a questionar nossas conclusões e evitar o estreitamento de visão.
Fique então ciente de que você tem estes dois sistemas de pensamento. Nas importantes decisões da vida, nas escolhas de caminhos, engaje seu sistema de pensamento devagar e deliberativo. Sabendo que os dois sistemas existem, podemos conscientemente ficar atentos a qual sistema estamos usando para não tomar decisões ruins, não ser manipulados e não chegar em conclusões espúrias.
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