Se você parar para pensar, verá como existem basicamente três maneiras de aprendermos qualquer coisa na nossa vida: pela dor, pelo amor e pelo exemplo.
A dor é inevitável em momentos de grandes provas e desafios, sobretudo quando a grande lição escondida por detrás de tantos “por que comigo?” tem a ver com ajudá-lo a se fortalecer com as quedas e tropeços da vida, tornando-o mais resiliente para lidar com aquelas situações que simplesmente não estão sob o seu controle, quer você goste, não goste, grite, descabele ou agradeça: elas são como são. Simples assim.
A dor é também uma ferramenta importante para desmistificar essa ideia de que somos bastante especiais e coisa tal, quando, na verdade, estamos todos num mesmo barco de aprendizados, experiências, erros, acertos e tantas outras questões para lidar. “Por que comigo?”, você se pergunta. “Por que não com você?”, a vida o questiona, ao mesmo tempo em que o leva a refletir sobre o quanto dar murro em ponta de faca ou continuar com a mão ardendo na chama do fogo, mesmo depois de ter se queimado todo, são atitudes que não levam a lugar algum que não seja o do sofrimento desnecessário.
Às vezes – a dor ensina – tudo o que a gente mais precisa fazer é simplesmente parar, dar um basta, colocar um ponto final, desistir mesmo, deixar ir, largar pra lá, consegue perceber?
E tudo isso não tem a ver com falta de coragem, não, muito pelo contrário: é preciso ser bastante corajoso para admitir o quanto certas escolhas estão fazendo mais mal do que bem. E encerrar o ciclo. Mudar de vez.
Eu sei. Você sabe.
É mais fácil trabalhar com vírgulas, reticências, parênteses e interrogações – ou então transferir a responsabilidade para o outro, usando e abusando das aspas e dos travessões – do que assumir a responsabilidade pelas próprias escolhas e fazer o que precisa ser feito, não é verdade? Pontos finais? Só para os fortes! Para desistir, também é preciso coragem.
Nas mesmas linhas tortas e curvas da vida, o amor. Para mostrar que você é muito mais forte e mais corajoso do que imagina. Para ser o seu porto seguro quando tudo parecer ruir. Para lhe sustentar sempre que lhe faltar o chão. Ou para abrir-lhe os braços, dar asas e ensiná-lo o quanto você é infinitamente capaz de voar. O amor.
Para responder a você mesmo em silêncio. Ser o seu lar e a sua companhia. Para enxergá-lo melhor do que você realmente é. Para ajudá-lo a lidar com todas as suas nuances, com todas as suas loucuras, com as marcas, as feridas, as cicatrizes, as certezas, as promessas, as vitórias, as derrotas, os vacilos, os tropeços, o passado… tudo.
Para dizer que está tudo bem. Ou que vai ficar tudo bem. Para ser o próprio bem. Não importa quando, nem onde, nem como, nem a quem.
E então vem o exemplo, talvez a forma mais assertiva da vida de te dizer que você não precisa necessariamente passar por certas coisas para saber que vai dar merda. Ou que pode ser muito maravilhoso, sim, por mais que o assuste, que te dê medo, que gere desconforto, que cause climão.
É claro que as experiências de cada um são as experiências de cada um. A vida é como grande um universo repleto de pequenos e infinitos universos bastante diferentes e particulares, mas, ao mesmo tempo, com mais coisas em comum do que pode imaginar a nossa vã filosofia.
E é justamente nesse ponto – no ponto que nos une como seres humanos repletos de medos, coragens, forças, fraquezas, fantasmas, expectativas e uma série de outras questões para lidar – que o aprendizado pelo exemplo vem para nos relembrar em alto e bom som, com o apoio de letras garrafais escritas em neon, o quanto não estamos sozinhos, simplesmente porque nenhum ser humano é uma ilha. E porque a necessidade de pertencer e de ser aceito talvez seja a nossa maior mola propulsora na roda da vida.
O que aconteceu pode me impactar e me inspirar de alguma forma, assim como o que me aconteceu pode gerar alguma inquietação ou contribuir para provocar alguma pequena-grande mudança dentro de você.
Em linhas gerais, é isto: o que você faz me conta muito mais sobre quem você é do que aquilo que você diz, porque só se inspira realmente e só se impacta realmente e só se transforma realmente pelo exemplo.
A minha palavra pode até ter algum poder sobre você, eu sei, mas, se ela não for percebida na prática, acaba se perdendo no vento. Palavra por palavra é só palavra.
Num mundo de tantas certezas caindo por terra, expectativas frustradas, medos paralisantes, rótulos, conceitos, preconceitos, críticas, julgamentos e tantos padrões inatingíveis que, às vezes, lutamos tão desesperadamente para alcançar todos os dias – até perceber que eles mais nos aprisionam e no subjugam do que nos libertam e empoderam – quantas não são as promessas que fazemos para os outros e para nós mesmos e que simplesmente não conseguiremos cumprir?
Não porque são promessas difíceis demais, ou desafiadoras demais, ou “impossíveis” demais, não. Mas, sim, por serem promessas ancoradas em propósitos fracos e ideais irreais, sustentados por uma mentira deslavada: a de que nós não vamos falhar.
Sim, você vai falhar. Mais de uma vez. E poder ser que, em alguns momentos, você se quebre em pedaços tão pequenos que já nem acredite mais que um dia seja possível voltar a ser inteiro outra vez.
E vou lhe contar uma coisa: você tem razão. Você nunca mais será exatamente a pessoa que você era.
Se isso é bom ou ruim? Depende. Se a maldade está nos olhos de quem vê, a beleza também está.
Há alguns dias, encontrei dentro de um diário antigo um bilhete que escrevi para mim mesma e que dizia assim: “Se eu não me permitir falhar, como é que eu posso gerar coragem para tentar o que quer que seja? Prometo tentar. Mas prometo falhar também. Tem coisa mais libertadora do que essa? É assim que eu aprendo, que eu cresço, que eu vivo. Eu prometo”.
Promete também?
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