A vida é uma coleção de amores inesquecíveis. Sei que ao ouvirmos essa afirmação nos remetemos a nossa carga de princípios e valores e logo a repreendemos: Como assim? Nós não devemos amar uma pessoa só e para o resto da vida?!
Preliminarmente, faz-se necessário explicar o que defino aqui com a expressão: “Coleção de amores inesquecíveis”. Não quero com essa afirmação fazer nenhuma apologia à poligamia, isso é tema para outra discussão. Porém, quero enfatizar a dificuldade que temos de aceitar que, ao longo das nossas vidas, cruzamos com pessoas que valem a pena amar, que valem a pena recordar e que valem a pena até se repetir. É que quando estamos amando, achamos que aquele momento é único e eterno, mas… se por algum motivo ele passar, o nosso ciclo normal da vida nos permitirá amar de novo e de novo… e é aí onde começa a confusão!
Fomos condicionados, seja pela nossa sociedade, seja pelos nossos princípios religiosos, seja pela nossa educação basilar ou até mesmo pelas circunstâncias, a apagar tudo que vivemos com o “amor” do passado para, somente depois disso, recomeçarmos do zero o novo relacionamento. É claro que essa é uma boa estratégia para um recomeço, sobretudo quando se viveu experiências traumatizantes. Porém, essa tática não funciona com a grande maioria.
O ato de querer apagar o amor do passado pode ser comparado com a tentativa de se apagar uma tatuagem. Sempre, por melhor que seja a técnica, você terá uma marca, ainda que invisível aos olhos de um desconhecido.
As pessoas podem até não perceber que naquele local teve uma tatuagem, mas o seu subconsciente jamais esquecerá! E isso é exatamente igual com o amor verdadeiro.
Podemos negar, disfarçar, sabotar, fingir, mas quando toca aquela música ou vem o cheiro daquele perfume etc., você sempre se lembrará. Você pode até tatuar por cima, desenhar no local daquela “velha arara” um “lindo tribal”, mas você sempre lembrará que a antiga tatuagem, algum dia, esteve ali!
Como você, passei muito tempo para compreender e aceitar essa situação. Precisei mergulhar numa vasta literatura e no estudo do comportamento humano, para poder apreender o porquê de tanta resistência e negação! É que para uma pessoa com uma carga de princípios e valores muito definidos, esses pensamentos, ainda que por um átimo de segundo, são decodificados pelo nosso conceito subjetivo de fidelidade, omo traição. E isso, no nosso aparato social predeterminado, é inadmissível quando se está amando alguém.
Mas, na realidade, quando se ama verdadeiramente, seja uma… duas… ou mil vezes, você coleciona momentos bons, mergulhos profundos na alma, encontros com o melhor de você mesmo, histórias que no fundo servem como tijolos na construção da pessoa que você é hoje.
A nossa forma de preparar e degustar o prato do amor no presente, sem sombra de dúvidas, foi influenciada por receitas do passado. Até a parte ruim que possa ter existido no antigo amor, serviu como impulso para você viver a sua atual história.
Respeitar e aceitar que seu parceiro(a), tenha vivido uma história passada, que tenha amado verdadeiramente alguém, deveria fazer com que você vivesse o seu momento mais intensamente e valorizasse na pessoa que está ao seu lado a nobre capacidade de amar. Pois, essa atitude o(a) tornará capaz de preparar um prato de amor tão maduro para você, mudando na receita todo aquele tempero que no passado deu errado.
É preciso entender que pessoas profundas não gostam de navegar em poças d’águas… elas tendem a amar, a se entregar, a viver de verdade uma história …rabiscando todo o dia o livro da vida para marcar os instantes.
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Por isso, ao invés de colecionarem relacionamentos sem emoções, elas dão mergulhos profundos e tatuam as suas almas. É uma forma de enraizar para sempre aquela semente que deu um fruto de sabor único!
Não importa o tempo que este amor dure, o importante é que ele seja um transformador de momentos comuns em momentos inesquecíveis. A quantidade do tempo deve ser sempre medida pela qualidade do amor que vivemos nele!
Portanto, finalizo com um trecho da música “Brincar de viver” interpretada pela maravilhosa Maria Bethânia, como um convite para continuarmos sempre e sem culpa a colecionar amores inesquecíveis! “E eu desejo amar todos que eu cruzar pelo meu caminho. Como eu sou feliz, eu quero ver feliz… quem andar comigo, vem”
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