“Quando a desconfiança entra, o amor sai”. – Provérbio irlandês
Uma amiga minha foi traída por seu namorado, mas optou por não deixá-lo. Em vez disso, ela fez com que ele pagasse pelo que tinha feito dia após dia.
Através de gestos e atitudes nada sutis, ela expressava repetidamente o desprezo que sentia por ele. Mas em vez de perdoar ou se afastar, ela se escondeu atrás de um escudo de ressentimento.
Como resultado, ele começou a corresponder da mesma forma, até que o relacionamento se transformou em um reservatório onde se guardava uma amargura silenciosa e mútua. Os dois compartilhavam um espaço sufocante, sobrecarregados pelo peso de tudo o que não diziam.
Eu suspeito que muitos de nós podemos nos relacionar com esse sentimento de apego à alguma mágoa.
Em pelo menos um de nossos relacionamentos, já sentimos raiva e indignação, e apesar de querer perdoar, simplesmente não conseguimos.
Posso dizer que eu já estive nessa situação também.
Não é fácil esquecer quando alguém quebra a sua confiança, principalmente se você teme que ela possa ser quebrada novamente, mas conviver com a dúvida é uma maneira infalível de sofrer.
Poucas coisas são mais dolorosas do que o medo de ser machucado novamente.
Este não é o tipo de coisa que você pode apenas deixar para lá através de pensamentos positivos. Você não consegue se sentir confiante apenas por dizer a si mesmo que deveria ser, ou através da racionalização dos sentimentos.
A realidade é que leva tempo e esforço para que possamos confiar outra vez.
É preciso coragem para reconhecer e compreender os seus próprios sentimentos e boa vontade da outra pessoa para ouvi-los e honrá-los. É preciso um compromisso mútuo para ir além do que aconteceu, ao invés de continuar remoendo o passado.
Mas, o mais importante, isso exige com que você acredite nas intenções positivas e no que ainda existe de bom dentro da pessoa que o machucou.
Você tem que acreditar que essa pessoa ainda é capaz de tratá-lo com respeito e consideração – mesmo que adotar esse pensamento demore algum tempo – ou então você nunca será capaz de baixar a sua guarda. E essa é uma maneira muito dolorosa de se viver.
Quando você se torna alguém que está sempre na defensiva, tudo se torna uma batalha, e ninguém nunca ganha.
Claro que isso não significa que exista uma fórmula mágica para sabermos com certeza que alguém não nos machucará novamente.
A única maneira de saber se somos capazes de confiar em alguém é, primeiramente, confiando.
Isso quer dizer que, antes de tomar essa decisão, precisamos nos perguntar: será que esta relação vale esse risco? Vale a pena eu me sentir vulnerável? Vale a pena perdoar? Vale a pena deixar para trás essa história?
E se vale a pena, como seria se eu oferecesse à essa pessoa a minha confiança, começando a partir de agora?
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