Já faz algum tempo que eu estou ignorando as batidas do coração e dançando no meu próprio ritmo. Já faz algum tempo que eu decidi dar um tempo do amor.
Decidi dar um tempo de ter o coração partido, inteiro, transbordando amor. E tudo se manteve igual. Sorte na vida, independência e liberdade. Viagens, sonhos realizados. Planos e expectativas na bagagem. Mas, acredite, mesmo depois desse tempo, ainda há muito amor em mim. Amor fora do padrão.
Já faz um tempo que eu desrespeitei meu próprio tempo e todos os dias são intensos. Não existe dia a dois, aniversário de namoro ou almoço na casa da sogra. Mas ainda existe o dia que é só meu. E outro para ficar com a família. Ou com os amigos, com o carinha que eu estou conhecendo melhor. Existe o dia de enfiar a cara nos livros. E outro de me acabar em filmes e brigadeiro. E existe o dia em que dá tempo de fazer tudo isso.
Já faz um tempo que eu ando sozinha enquanto o mundo sorri de mãos dadas. Já faz tempo que decidi dar um tempo e acabei perdendo a hora. Parei de contar os dias no calendário. Deixei de ser pontual e pensar por dois. Só penso por mim e por todos os que eu tanto amo.
Mas ainda estou só. Quero ser só. Também quero ser dos meus amigos, da família, dos estudos, das viagens e do carinha que eu estou conhecendo. Só se eu ainda puder ser minha!
Já faz um tempo que eu olho pela janela e contemplo as luzes sozinha. Às vezes, respiro fundo e sou grata. Penso: “A solidão é uma dádiva”. Outras vezes, reclamo baixinho:
“Estou cansada de ser sozinha”… Já faz algum tempo que viver é essa bipolaridade absurda. Sorrir e chorar. Porque a solidão é duas caras.
A complexidade da solteirice me fascina. Beijo hoje, amanhã não beijo. Sinto saudade, morro de ciúme. Quero, mesmo sem querer. Dou match, tomo um café. Perco-me em sorrisos e suspiros no travesseiro. Eu me apaixono. E tudo isso que tanto me encanta, também me causa um desespero. Quero viver. Então me entrego, amo. Sou feliz, sofro. Se fujo, morro. Nada me mantém mais viva e cheia de mim.
Já faz algum tempo que eu decidi dar um tempo. Decidi fugir no dia seguinte. Decidi trancar a porta e deixar a janela encostada. Eu só fico onde sei que posso demorar. Mas quase sempre, faço questão de ser breve.
Faz algum tempo que eu escolhi ter tempo para a minha solidão. Mas ainda há tempo para o amor, mesmo quando eu digo que não.
Dar um tempo do amor talvez signifique apenas dar tempo ao tempo. Porque o amor nunca foi embora. O amor sempre esteve aqui. Em telefonemas, encontros casuais, músicas e boates. O amor se fez em fotografias, textos e palavras.
O amor é o refúgio da solidão. E eu ando tão sozinha, mas tão cheia de amor, que é difícil de imaginar a vida sem qualquer um dos dois.
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