Já nos diz a filosofia:
“O fato não existe. O que existe é a versão do fato.”
“O fato não existe. O que existe é a versão do fato.”
Parece desanimador, mas tudo depende de como você se coloca em relação a isso. Vejamos: de modo geral, todo a informação a qual temos acesso está impregnada dos valores, conhecimentos e experiências de determinada pessoa ou grupo. Comumente, questionamos a total ausência de imparcialidade midiática, mas ignoramos que nós mesmos não prezamos pela neutralidade em nossa atuação sobre o mundo.
Se isso não lhe parece um problema, veja o mundo à sua volta. Observe como as diversas versões dos fatos originaram ideologias políticas, religiões e afins, as quais, por conseguinte, ocasionaram e ocasionam os embates, as separações e as guerras.
Diariamente e em prol dos nossos pontos de vista, nós fomentamos a separação, promovendo as discrepâncias em lugar de exaltarmos as semelhanças, que são o que nos possibilitaria a criação de um mundo mais igualitário e que melhor se utilizasse de todos os recursos existentes. Dia após dia, só fazemos reafirmar os nossos valores, rotulando como “errado” aquilo que destoa do que concebemos como “certo” e, assim, à la Chespirito (sem querer querendo), oferecendo munição à segregação e a tudo o que ela tem feito com o mundo.
Não raro, as leituras às quais nos dedicamos, os programas de tevê aos quais assistimos e os locais que frequentamos são aqueles que corroboram aquilo que já faz parte do nosso sistema de crenças.
Se por um lado isso se mostra válido por nos trazer a sensação de pertencimento, por outro se mostra cômodo em demasiado, nos mantendo no conforto de nossos valores e crenças, lugar do qual, presunçosos e munidos do nosso manual de regras, julgamos como certos ou errados aspectos da experiência humana que nunca conhecemos de fato. Receosos de desafiar as nossas certezas, nos desviamos de todo e qualquer caminho que nos conduza ao real conhecimento daquilo que nos é contrário. Pensamos ser plenos em convicção, mas, de modo geral, somos apenas egocêntricos, vaidosos e assombrados pelo medo.
Que ninguém tome isso como pessoal, mas uma compreensão mais ampla do humano requer um verdadeiro encontro com o outro, em suas mais diversas expressões. Tem que se alternar entre o que é tido como cult e como marginal, tem que conhecer a realidade das ruas, tem que manter acesa uma curiosidade que impulsione sempre ao genuíno esforço para se compreender os fundamentos do outro.
A vida urge que desçamos do nosso mundinho particular e desembarquemos na vida lá fora tal como ela se apresenta, complexa e habitada pela mais bela diversidade, pelas infinitas possibilidades e expressões de uma única força criadora.
É mister que nos dediquemos com afinco à nossa evolução e autoconhecimento para, então, aprendermos a concordar com o fato de os outros discordarem de nós; aprendermos a fazer as nossas escolhas políticas não de acordo com nossos valores pessoais, mas com base nas reais demandas da sociedade e dos seres humanos que dela fazem parte, até porque tem mais gente tentando viver neste mundo além da gente; aprendermos que é o encontro a única e verdadeira mágica da vida!
Portanto, prezemos hoje por um pensamento, por um sentimento e por uma ação que nos aproxime do outro. Que o nosso discurso seja de afeto. Que os nossos anseios sejam de humanidade. Que os nossos passos sejam, sempre, em direção ao outro.
E, quando não enxergarmos saída, apenas tomemos a compaixão como leme.
Direitos autorais da imagem de capa: bruce mars from Pexels