Em alguns momentos, Lauren sente como se estivesse de luto por alguém que ainda está vivo, principalmente quando o esquecimento é mais presente que a lembrança.
O Alzheimer é uma doença progressiva, em que as conexões cerebrais e as células acabam se degenerando e morrendo, prejudicando a memória e outras funções importantes. Entre os principais sintomas estão a perda de memória e a confusão, e não há cura para os pacientes, apenas tratamento para amenizar os sintomas de forma temporária.
É uma doença muito comum e, segundo o Hospital Israelita Albert Einstein, no Brasil, são mais de 2 milhões de novos casos descobertos a cada ano. Lauren Dykovitz e sua irmã notaram que, algumas semanas antes, a mãe apresentava um comportamento estranho, não parecia ser a mesma pessoa, tinha se tornado retraída, esquecia informações básicas, como nomes, endereços e telefones, e estava mostrando alguns problemas com a percepção de profundidade, o que afetava completamente seus movimentos.
Depois de insistência das filhas, ela fez uma consulta com um neurologista, que lhe deu o diagnóstico de mal de Alzheimer. Todos os membros da família decidiram se reunir naquele momento, mas não sabiam ao certo qual passo dar, sentiam como se estivessem sentados, apenas esperando que a doença destruísse a mente da mãe e a vida de todos.
Lauren compartilha, atualmente, a jornada do Alzheimer de sua mãe nas redes sociais, onde recebe apoio da comunidade e oferece dicas e algumas palavras de conforto para as famílias que passam pela mesma situação.
Quem a vê agindo dessa forma não imagina que, nos primeiros três anos, relutou em aceitar a condição clínica da mãe, e sente muita tristeza quando conta que jamais vai esquecer a primeira vez em que olhou para ela e não a reconheceu.
Elas estavam na praça de alimentação de um shopping, e Lauren saiu para comprar comida e bebida, enquanto a mãe guardava a mesa. Assim que voltou, carregando as bebidas, a mãe lhe disse que havia alguém sentado naquele lugar e que não era para ela usá-lo. A filha imediatamente compreendeu o que estava acontecendo e, pela primeira vez, apresentou-se à mulher que a havia gerado.
A partir desse dia, passaram por incontáveis “primeiras vezes”. A mãe foi se esquecendo aos poucos como fazer as coisas mais básicas, não se lembrava mais como se vestir, perdeu-se dentro de casa, não sabia mais usar o banheiro, desaprendeu a usar o telefone, precisou de ajuda quando caiu, começou a usar cadeira de rodas e a receber alimentação em uma colher.
Mesmo com todo apoio que recebe do marido, do pai e de todos os familiares, Lauren ainda sente muito remorso e culpa por nunca ter falado sobre a doença com a mãe enquanto teve chance. A filha explica que nunca vai saber como ela se sentia sobre isso, se tinha medo, se sabia o que ia acontecer.
Ela conta que o problema do Alzheimer é que se perde tanto da pessoa pelo caminho que, no fim da jornada, é como se todos já estivessem esperando pela morte, mesmo que ninguém queira admitir isso. Todos ficam de luto por uma pessoa que ainda está viva, e isso consome aos amigos, conhecidos e parentes.
Desde que a mãe foi diagnosticada com Alzheimer, já se passaram nove anos, e ela continua viva, mas já não mora mais com a família. Para Lauren, pode, sim, existir alegria nesta longa jornada de descobertas e aprendizados com a doença. É preciso abraçar os pequenos momentos de felicidade e incentivá-los, já que vão se tornar verdadeiras relíquias no futuro, memórias e lembranças que serão capazes de fazer tudo valer a pena.
Mesmo que seu familiar não reconheça você, Lauren acredita que ele sabe quem você é, já que conhece seu coração, sua alma e seu amor. Ele pode não saber seu nome, mas isso não significa que não tenha guardado a lembrança da sua voz e da sua presença, pois o vínculo é inquebrável, já que o amor é incondicional.
Lauren vê isso no seu dia a dia com a mãe, mesmo que ela não saiba quem é aquela que a visita, ela sempre sorri quando ouve seu nome e responde quando é chamada de “mãe”. Mesmo que ela fale cada vez menos, invariavelmente acaba dizendo que a ama. As surpresas continuam a aparecer, mesmo com um caminho tão longo e árduo.