Gritos inaudíveis. Pedidos de socorro sem forma. Não vemos e não ouvimos. Muitos são aqueles que passam despercebidos no meio da multidão. Muitos são aqueles que tanto precisam de uma mão amiga e mal conseguem um olhar. Eles estão à margem da sociedade. Eles não se enquadram nas notícias vendáveis do jornalismo mercantil. Eles não se enquadram no que pode ser importante porque não é interessante conhecê-los.
Eles são invisíveis. A dor deles não é relevante, é como se não fossem nem dignos de compaixão.
É miséria o que eles vivem e ainda mais miséria é o que sentimos. É desumano simplesmente escolher não olhar para o que não convém.
Tragédias mundo afora ignoradas pelos holofotes, ignoradas por quem não quis saber mais profundamente uma notícia, por quem não se interessa pelo local e logo também não por todas a vidas que lá sofrem. Recentemente, vimos um ataque terrorista na Somália passar despercebido por muitos, uma tragédia com tantos mortos e tão pouca repercussão. E a maior tragédia ainda é esse coração frio instalado no centro da humanidade, coração que tem a capacidade de selecionar a quem se compadece. Alguns países não existem para o Ocidente, nações mergulhadas no esquecimento, invisíveis perante à uma egoísta e mesquinha parte da população.
Insensibilidade que sempre começa nas minorias. Insensibilidade que torna tão distante povos tão semelhantes. Insensibilidade das mais cruéis, de onde nasce o preconceito, a intolerância, onde nasce…a barbárie. Todo um universo o qual escolhemos não enxergar, não sentir, ignorar.
Pessoas como nós, porém seu martírio não merece nossa atenção. Não mais os vemos e muito menos os ouvimos. Em meio a tanto despeito e esquecimento torna-se impossível ser visível.
Compaixão seletiva. Humanidade perdendo sua própria capacidade de olhar para o lado. Às vezes, parece que nos perdemos na estrada da vida. Esquecemos de por um minuto se colocar ali no lugar do outro, vestir a pele que não é nossa, sentir dor ao ver a dor do outro. É um lugar de menos crítica e mais coração aberto. Apenas precisamos ter vontade de olhar o outro de verdade, em totalidade.
Um olhar é tão poderoso quando contém amor! Um olhar atento por ter a dimensão de um abraço. Um olhar pode devolver a quem precisa a coragem que pensava não ter mais para lutar.
Um olhar pode lembrar ao outro que a vida vale a pena por si só. Pense. Repense. Expanda. Com o que você realmente se importa?
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