Imagine você ouvir de um médico que tem apenas três meses de vida. Talvez, no ato, sua reação seja de desnorteamento, até mesmo por conta do choque com a informação inesperada.
Ainda nessa linha de raciocínio, o seu segundo ato seria a reflexão, uma meditação solitária, que vai ligando os pontos para entender como tudo aconteceu até aquele momento. Talvez, nesse momento, um filme passe pela sua cabeça, mostrando tudo aquilo que já realizou, os bons e maus momentos, as conquistas, os romances, as aventuras e, claro, tudo que ficou faltando ser concretizado.
Ninguém deseja a morte, ao contrário, lutamos sempre pela sobrevivência, seja com relação à saúde física ou financeira, ao crescimento profissional e até mesmo dos nossos relacionamentos.
Foi por essa experiência que o urbanista Lincoln Paiva, de 54 anos, passou há algum tempo, quando recebeu do seu cardiologista a triste e inaceitável informação de que estava com 75% do coração morto e teria apenas pouco mais de três meses de vida.
A situação chega a ser contraditória ao que estamos acostumados a ver, já que geralmente pessoas que sofrem de problemas cardíacos levam uma vida sedentária. Lincoln era uma pessoa totalmente diferente.
Ele era saudável, praticava esportes regularmente, não fumava e consumia bebidas alcoólicas apenas socialmente, como nas reuniões familiares.
Apesar desse histórico positivo, foi vítima de duas paradas cardíacas e um AVC. A insuficiência cardíaca é uma das doenças que mais matam no planeta. O resultado disso foi uma internação em junho deste ano, no Instituto do Coração de São Paulo (Incor). Ele precisava urgentemente de um transplante de coração.
Mas a situação de Lincoln não era fácil. Ele sofria de hipertensão arterial pulmonar, uma doença rara, que faz com que o fluxo de sangue que vem dos pulmões seja mais alto do que o normal, com isso, segundo os médicos, o coração transplantado não funcionaria e ele acabaria falecendo horas depois.
Pense agora: o que você faria diante de uma situação tão delicada como essa?
Se fosse uma pessoa mais apegada à fé, o primeiro ato seria rezar e pedir a Deus uma providência urgente. Lincoln Paiva teve a sua prece atendida e, em um ato absolutamente milagroso, uma alternativa foi encontrada pelos médicos, já de última hora.
O cirurgião Fábio Gaiotto estava à procura de voluntários para o estudo de uma técnica que vinha desenvolvendo já havia quatro anos. Quando teve o primeiro contato com Lincoln, o cirurgião encontrou um paciente totalmente debilitado e vulnerável. O urbanista estava acamado e demandando cuidados paliativos.
Com o tempo previsto de vida se esgotando, Lincoln aceitou fazer parte do estudo e teve dois corações artificiais transplantados em seu corpo.
Conforme explicou o cirurgião responsável pelo procedimento, primeiramente foi colocado um coração artificial mecânico e constatada que a pressão no pulmão diminuiria depois de algumas semanas ou meses.
Com essa comprovação, passaram para a fase 2, usando um coração biológico. Lincoln ficou com os dois corações no corpo ativos e, depois, uma nova cirurgia foi realizada, desta vez para retirar o coração doente e para implantar o novo, que lhe daria a chance de um recomeço.
O procedimento foi um verdadeiro sucesso e agora vai ajudar outras pessoas que passam pela mesma situação a se recuperar e ter uma nova chance de viver.
O urbanista Lincoln, que entrou no hospital achando que ia morrer, saiu de coração novo e bem de saúde no dia 5 de novembro.
Com a alta médica, a primeira coisa que o urbanista fez foi sorrir novamente e agradecer.