Relacionar-se por meio da atenção plena nos permite deixar as nossas projeções de lado para interagirmos com os nossos filhos como eles são.
Quando descobrimos que seremos pais, espontaneamente, fazemos muitas projeções sobre os nossos bebês, até mesmo quando eles ainda são infinitamente menores do que o menor de nossos sonhos para eles.
Nestas projeções, eles já têm futuro. Nós já sabemos o que não queremos que eles passem. Nós já estipulamos como eles devem se comportar nas reuniões familiares. Nós já torcemos pelas suas profissões e até pelos seus gostos musicais. Nós também palpitamos sobre os momentos em que sentem frio ou fome. Em relação a eles, agimos sempre como se eles fossem ventos e nós tentássemos a todo o tempo, modificar a sua direção, levando-os para onde nós achamos melhor.
Contudo, quando os bebês nascem, ainda que continuemos a traçar rotas de como eles devem ser e de que modo devem se comportar, a sua singularidade, gradativamente, fará com que repensemos os nossos sonhos para eles.
Embora muitos destes sonhos ainda continuem buscados por nós, alguns serão planejados novamente ou refeitos, de acordo com as preferências dos bebês e de sua personalidade. Neste caso, é como se os ventos se recusassem a se movimentar de acordo com as barreiras que colocamos para eles. E assim buscamos um equilíbrio entre aquilo que desejamos e temos a certeza de que é melhor para eles e aquilo que eles mesmo buscam, a partir de suas sensações, vontades e necessidades.
Encontrar um equilíbrio para isto não é uma tarefa muito fácil para nós pais. É preciso dar continência aos ventos. Afinal de contas, os nossos bebês precisam disto para adentrarem no mundo das trocas sociais, da comunicação e da cultura. Mas, cerceá-los demais é também cercear os seus sonhos, a sua liberdade e a sua criatividade. O que fazer, então?
A resposta está em interagir com eles, por meio da atenção plena. Atenção plena é a capacidade que temos de ter e manter uma atenção ao que vivemos nas relações presentes, sem julgarmos ou interpretarmos o que estamos vivendo.
Dito de outra forma, precisamos buscar, no momento em que estamos com eles, simplesmente estarmos com eles, sem categorizar ou refletir sobre as suas ações.
Neste caso, relacionar-se por meio da atenção plena nos permite deixar as nossas projeções de lado para interagirmos com os nossos filhos como eles são, ao invés de interagirmos com eles, de acordo com aquilo que achamos que eles são ou o que devem ser.
O exercício da atenção plena, permite que entendamos e aceitamos os nossos filhos em sua especificidade. Isto se torna ainda mais imprescindível para os pais de crianças que apresentam desvios em seu desenvolvimento, já que, além das projeções que, em algumas situações, eles não conseguem alcançar no momento, eles precisam se relacionar com pais, que, muitas vezes, ainda não compreendem a trajetória de seu desenvolvimento.
Buscar a atenção plena é nos permitir estarmos mais presentes e íntegros nas interações afetivas e sociais com os nossos filhos. É nos permitir nos surpreender com um sorriso que não esperamos e nos impactar com as suas ações inesperadas e aprendermos com tudo aquilo que eles têm para ensinar para nós.
Deixarmos de lado as nossas projeções, pelo menos no momento em que estamos com eles, é nos permitir sermos levados pelo sabor delicioso dos ventos. E, mesmo que também seja importante darmos contingência aos seus movimentos, sentir a sua brisa natural em nossos rostos e corações é a melhor forma de estarmos com eles e educá-los.
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