A Bela e a Fera que habitam dentro de nós…
Na sua teoria das pulsões Sigmund Freud descreveu duas pulsões antagônicas: Eros, uma pulsão com vocação à preservação da vida, e a pulsão de morte, Tânatos, que provocaria à discriminação de tudo o que é vivo, à destruição. Amor e ódio, desejo e agressividade, vida e morte, são forças que habitam no ser humano e estão presentes no cotidiano. Essa bipolaridade é o centro dos conflitos psíquicos e sociais.
Segundo a mitologia grega existe uma desordem entre essas pulsões. Eros que é o deus do amor e Tânatos, deus da morte.
Eros, o mais belo dos deuses, possui arco e flecha com os quais costuma lançar de amor homens, mulheres e deuses. Mas certo dia Eros adormeceu numa caverna, embriagado por Hipno, relaxou e suas flechas se espalharam, misturando-se com às flechas de morte. Assim, Eros passou a carregar as flechas de amor e de morte, os dardos de Tânatos.
A pulsão de morte está para além do princípio do prazer e do aparelho psíquico. Na visão de Freud, Tânatos simboliza um comportamento autodestrutivo, uma expressão da energia criada pelos instintos de morte. E quando essa energia é remetida para fora e para os outros, é impulsionada como agressão e violência.
Por isso, que no cinema – o filme a Bela e Fera – está fazendo um sucesso esplêndido, pois as “flechas de amor e de morte” surgem nesse clássico da Disney, que retrata a história de um belo príncipe que foi transformado em uma Fera, por uma feiticeira, devido à sua soberba e egolatria, tendo como condição para a quebra desse feitiço a sua capacidade de amar e ser amado. A Fera, com sua pulsão de morte, refugia-se no seu castelo para viver solitariamente.
A Bela, uma jovem bonita, inteligente, educada e afetuosa, torna-se prisioneira da Fera, em seu palácio, em troca da liberdade de seu pai.
Bela concebe a energia de Eros criada pela preservação da vida, que é conhecida como libido. Ela tem atitudes ligadas com o instinto de vida, que contêm amor, solidariedade e generosidade, portanto, é nesse encontro de opostos que o filme acontece.
No caso da Fera, foi inevitável que algo exterior, o feitiço do impulso de morte, ocorresse para que, ao encontrar-se com Bela, olhasse para dentro de si e acordasse o seu “Eros”, que ele pudesse então vir à consciência.
É nesse momento que a Fera – reconhece os seus erros e torna-se capaz de empoderar-se de sua beleza interior, que é a sua pulsão de preservação da vida.
No mundo fantasia e no mundo da vida real, é possível compreender que a figura da Bela (Eros) e da Fera (Tânatos), são pulsões que não agem de forma isoladas, pois estão trabalhando em conjunto para conservação ou para destruição da vida. Enfim, precisamos entender que esse dualismo faz-se presente na alma humana, concebendo as forças da vida, mas se as forças da morte se tornarem únicas no aparato anímico, elas irão confundir, desunir e separar, promovendo a destruição da vida.
Jackson César Buonocore