Psicologia Positiva: a ditadura psicológica da felicidade? É preciso pensar no ser humano holisticamente. Somos felicidades e tristezas, fraquezas e forças e está tudo bem.
Olá, minha amiga e amigo leitor. Hoje, eu lhes escrevo como uma espécie de desabafo. Eu sou um ser humano naturalmente feliz, de verdade. Mínimas coisas no nosso corrido cotidiano me arrancam sorrisos profundos e sinceros.
Sou realmente capaz de me alegrar com coisas consideradas banais pela grande maioria das pessoas que conheço e, como dizem por aí, desde que ‘me conheço por gente’ sou assim.
Recordo-me de diversos momentos na minha adolescência ter sido apelidada (penso que carinhosamente (risos) de ‘hiena sorridente’. É isso mesmo que leu: ‘hiena sorridente’. Por um motivo simples, este animalzinho de nome hiena parece realmente sempre sorrir: sua boca é naturalmente ‘esticada’, como se estivesse num sorriso eterno.
Eu adorava, isso. De verdade. Sempre fui conhecida por rir de tudo, ou rir muito, ou constantemente estar de bom-humor, pela grande maioria das pessoas que me conhecem.
Sempre ouvi frases como: “Eu conheci pela risada”, “Você nunca fica triste?” Coisas desse tipo. Talvez você tenha passado por situações assim ou conheça pessoas que passaram ou passam por isso. Até então, tudo bem, certo?! Quase tudo ok, e é exatamente sobre este ‘quase’ que desejo lhe falar.
Algumas pessoas próximas já testemunharam minha tristeza, ansiedade, minha raiva em algumas situações. E nestes momentos a frase ‘isso não parece você’ me chamou muito atenção.
Questiono, então, por que um ser humano não pode sentir e expressar determinadas emoções? Onde está o pacto que assinamos com os observadores das nossas vidas que precisamos estar polarizados numa emoção apenas? Hamm?? Hein?!
Sinto muito, mas ninguém é feliz o tempo inteiro. Este é um alvo que não existe nem mesmo em filmes, minha cara e meu caro leitor, pois é exatamente o drama que possibilita adrenalina nas telinhas.
A vida está muito mais para uma montanha russa, com altos e baixos do que apenas altos.
Um pouco depois de mostrar ao mundo que atuo com a Psicologia Positiva (PP) algumas cobranças se tornaram até um pouco cruéis. Escrevo, então, para esclarecer algumas coisas.
A PP não é a ditadura psicológica da felicidade. Seu objetivo não é polarizar as pessoas nas emoções positivas, como a alegria, por exemplo, e eliminar emoções como tristeza, ansiedade e raiva. Não!
A PP é um campo científico que estuda o bem-estar, a felicidade, os traços de personalidade e instituições positivas, mas você nunca achará, em nenhuma literatura, sobre este campo que outros traços distintos destes devem ser eliminados, mas, sim, você poderá ver em diversas obras sobre a PP que a ciência psicológica necessita legitimar os traços positivos tanto quanto os negativos. Legitimar o mal-estar, tanto quanto o bem-estar.
Hei, meu amigo e amiga, ter a capacidade de estar triste é tão importante quanto a capacidade de se alegrar.
Em diversas situações, a tristeza é uma emoção saudável e apropriada. Imagine uma situação de luto pela perda de uma pessoa querida. Estar triste neste momento é uma resposta natural e esperada pela nossa cultura.
Além desta situação, existem outras em que não estamos ok. Estamos mal, tristes, ansiosos e com raiva. E hei!? Está tudo bem. Está tudo bem não estar tudo bem. Está ok, não estarmos ok. Afinal de contas, somos apenas humanos não é mesmo?!
Nosso sistema hedônico nos diz que precisamos estar felizes e maravilhosos todo o tempo, e isto é simplesmente impossível. É maravilhoso nossos momentos de felicidade, mas eles não duram para sempre. E quem disse que precisam durar? Também é preciso extrair força da fraqueza e bem-estar de um profundo mal-estar.
É preciso pensar no ser humano holisticamente. Somos felicidades e tristezas, fraquezas e forças e está tudo bem se por alguns momentos nosso sorriso se tornar pranto.
Até mesmo o sol pode ficar encoberto em dias chuvosos. E está tudo bem. O sol não desaparece porque a chuva chegou. Ambos podem conviver num mesmo céu.
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