Tenho uma caixa com algumas coisas que, por algum motivo, me dão uma coisinha boa só de saber que estão lá. Abro a caixa com uma certa reverência, um respeito mesmo, sabe?
Dia desses, meu garotinho me perguntou:
– Mãe, você gostava de Netflix quando era pequena?
Disse à ele que, quando era pequena, não tinha Netflix, nem celular, nem…
– “Credo, acho que você era muito triste quando era pequena…”
Humm, será?
Mais tarde, resolvo remexer na minha caixa de recordações. Sim. Tenho uma caixa com algumas coisas que, por algum motivo, me dão uma coisinha boa só de saber que estão lá. Abro a caixa com uma certa reverência, um respeito mesmo, sabe?
Papéis de carta escritos à mão pelas amigas do coração, fotos da turma abraçada ao lado da professora querida.
Quanto cabelo naqueles anos 90, não? Uma pulseirinha do menino que eu gostava. Caiu enquanto ele jogava bola e eu guardei! E um… diário! Abro devagar e sinto o tempo parar, por um momento.
No dia 10/02/1994 escrevi que encontrei o menino que eu gostava. A frase era assim:
“Hoje eu vi o fulano… Ele estava com aquela calça bag amarela, camiseta regata e cantando aquela música do Katinguelê: “Lua vai, iluminar os pensamentos dela…” Confesso que eu nem gostava do Katinguelê, ou de pagode, mas, ficava imaginando que ele estava cantando para mim. Para a lua iluminar meus pensamentos…
(risos). Morri. Morri de amores na época e morro de saudades hoje, de um tempo tão inocente.
Sigo, revirando minha caixa. Encontro um quadrinho de madeira com a imagem de Nossa Senhora.
Era da minha mãe e, segundo minhas irmãs, foi da mãe dela. Amareladinho, sabe? Tem aquele cheiro de tempo e de madeira. Engraçado. Acho que senti o cheirinho dela por aqui… Hã, hã, nozinho na garganta, sigo meu passeio ao meu passado.
Encontro meu convite de formatura do colegial. Aahhhh! Capa de veludo vermelha, tem o nome de colegas que em 1995 eram personagens frequentes na minha vida. Vem à minha cabeça Oswaldo Montenegro em sua música “A lista”:
“Faça uma lista de grandes amigos. Quem você mais via há dez anos atrás? Quantos você ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais…”
Fotos de camisetas de escola com declarações de amizade ETERNAS. Cadernos de enquete em que a gente respondia perguntas do tipo:
Você já beijou? Resposta das meninas: X
Resposta de TODOS os meninos da sala: Sim. Claro.
Vixe! Mentira. Naquela época, a gente só beijava a própria mãe e olhe lá.
Agora, para tudo: O jornal O Estado de SP de 16/07/1997. Nele, meu nome na lista dos aprovados da faculdade.
Em volta do meu nome, uma marca de batom! (Risos). Muito eu.
Sigo meu mergulho na minha história e encontro meu diploma do curso de datilografia! Cartas, cartas e mais cartas que começam em 1996 e que foram escritas pelo menino mais sensível que conheci na vida. Graças ao bom Deus, ele se casou comigo anos depois.
Fotos da formatura de faculdade, meu passaporte com o carimbo do intercâmbio, fotos impublicáveis, onze quilos mais magra e com cabelo suficiente para outras três cabeças.
Opa! Debaixo da caixa, bem empoeiradinha, está ela: minha máquina de escrever Olivetti Bambina.
Ganhei dos meus irmãos no meu aniversário de 11 anos. Empoeirada, mereceu uma faxina dedicada.
Papéis de bala que com certeza tiveram algum significado memorável, caderninhos de recordação com chave…
Fotos do noivado, (sigo achando lindo uma festa de noivado…), do casamento e nelas, algumas pessoas que já se foram. Fotos da minha barriga grande e dos meus bebês pequenos, fotos de gente, de bichos, de viagem, de comida e de… vida. Muita vida.
Devolvo tudo para a caixa e, mais tarde, enquanto olho meu pequeno questionador brincando, penso:
É, acho que minha infância não foi tão triste assim. Com certeza, não.
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