Existem pessoas no mundo com limitações físicas e mentais. Alguns dizem deficiência, outro dizem falhas genéticas e os piores dizem doentes, aberrações; eu digo especiais, únicos, raros, escolhidos para enfrentarem desafios maiores e mostrarem ao mundo que não importa a dificuldade, é possível alcançar o que se deseja.
Eu tenho uma pequena perda auditiva, o que parece ser genético na minha família, só afeta as mulheres e, na verdade, trata-se de uma predisposição a desenvolver a perda auditiva.
Começou com zumbido no ouvido por exposição à ruídos e eu posso chegar a um dia ficar completamente surda e, sinceramente, isso não me assusta pois sei que existem aparelhos e implantes que recuperam praticamente 75% da audição perdida.
Confesso que senti uma imensa vontade de chorar quando recebi o ultimato. Lembro até hoje o otorrino dizendo “É, está um pouco surda” e como me senti quando entrei no elevador depois de sair da consulta. Pensei como eu viveria minha vida sem ouvir músicas que é algo que sempre amei, sempre quis aprender a tocar violão e cantar; como eu ia fazer isso sem ouvir?
Como seria minha vida sem conseguir me comunicar direito com os outros?
Para muitas pessoas isso pode ser banal, mas eu cresci sem poder chamar minha mãe de mãe, ela não podia me ouvir, ela não conhecia minha voz e sei o quanto ela sofria por isso e muitos outros problemas. Sabe o que ela fez? Foi atrás de aparelhos auditivos, colocou implante e tem pensado em colocar mais um implante
A primeira vez em que minha mãe pode realmente me ouvir eu tinha 20 anos, hoje tenho 23; foi imensa a emoção quando eu disse mãe e ela se virou, quando pude falar com ela por telefone, parecia que realmente nos tornamos mãe e filha naquele momento, tínhamos reforçado nosso laço ali, descobrimos uma mina de ouro e ainda iremos descobrir muito mais. Parece bobo não? Mas é algo indescritível e que nos faz valorizar as pequenas coisas da vida.
Se você tem alguma limitação saiba que isso não faz de você incapaz, isso não faz de você um inútil, isso faz de você um lutador; significa que você foi escolhido entre muitos para viver algo único, difícil, mas incrível e só depende de você e das pessoas mais próximas tornar isso a melhor experiência da sua vida. Parece injusto isso? Ser escolhido entre tantos para não ouvir, não falar, não ver, não ter capacidade física ou cognitiva?
Depende de você permitir que isso seja injusto ou não, depende de como você escolhe encarar isso.
Eu vejo o meu zumbido como um certo privilégio, em qualquer lugar que eu vá, se eu quiser ouvir inúmeros pássaros cantando ao mesmo tempo ou o som de grilos aos montes como a gente só ouve em cidades de interior, naquela noite estrelada linda em que só se ouve os grilos… Basta eu fechar meus olhos e me concentrar no zumbido no meu ouvido. No começo não era assim, eu odiava isso, não dormia direito, vivia estressada. Aprendi a lidar com isso ouvindo música antes de dormir, deixava a música tocando no alto falante do celular, bem baixinho para me concentrar nela e não prejudicar minha audição mais ainda.
Eu fiz a escolha de lutar com isso, de aceitar minha limitação e entender que isso me torna mais forte.
Escolhi usar minha limitação como impulso para me esforçar e me dedicar mais, para lutar com mais garra.
Sei que minha deficiência é minúscula comparada a tantas outras, mas não importa o grau de dificuldade, eu teria feito a mesma escolha.
Saiba que você não está sozinho nisso, saiba que existe um mundo de opções e possibilidades lhe esperando, e saiba que você é forte e pode sim, do seu jeitinho e no seu ritmo, alcançar seus objetivos. Basta apenas aceitar a si mesmo e ter consciência de que, muitas, vezes a luta é árdua mas a recompensa é valiosíssima.
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