A ideia pode ser assustadora, uma vez que pensamos que nossos pais são os responsáveis por nos dar uma boa educação, ensinar bons conceitos, dar carinho, amor e, sobretudo, nos proteger.
Infelizmente, os abusos emocionais e até mesmo os físicos são mais frequentes do que podemos imaginar. Por vezes, esses pais que abusam psicologicamente dos seus filhos podem ter sofrido os mesmos abusos de seus pais, criando um círculo vicioso. Talvez, eles nem percebam o quão assustadores eles são, mas isso não é justificativa para cometer tal ato.
Todos os pais querem filhos bem-comportados, bem disciplinados e quando isso não é possível, seja lá por qual razão, eles perdem o controle, e por não conseguirem controlar seus filhos, pode-se criar um abuso emocional.
Entenda as causas e o efeito que causam o abuso psicológico
Como foi dito anteriormente esse abuso pode ser causado por questões antigas, seus pais podem ter sido vítimas de abuso e não reconhecem isso, até acham normal, então tratam seus filhos da mesma maneira que foram tratados, justamente por acharem que é a maneira correta de educar alguém, e só conhecem esse meio para disciplinar, pode ser também por sentirem-se amargurados com a vida, ou até mesmo por arrependimento de alguma coisa que fizeram no passado e acabam por descontar no lado mais fraco.
Ainda que existam “motivos”, seja por uma má criação ou por arrependimento qualquer, mesmo sob essas circunstâncias, absolutamente ninguém tem o direito de agredir fisicamente ou psicologicamente. É errado e aparece na constituição. Veja o que diz a lei:
O 7° artigo da lei n° 11.340 do parágrafo II consta: a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
Identifique qual o tipo de abuso está sofrendo
Identificar qual o tipo de abuso que sofre ajudará a entender com clareza sua situação inclusive facilitará quando recorrer a ajuda de terceiros. Veja alguns exemplos:
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1 – Agressão verbal
Seus pais podem ofendê-lo ou fazer uso de xingamentos de todos os tipos, falar de seus defeitos, fazer piadas a seu respeito, usar de sarcasmo, humilhação em público ou dentro de casa, criticá-lo em excesso, repreender, oprimir, colocar a culpa do universo sobre suas costas.
2 – Descaso emocional
Seus pais lhe dão absolutamente tudo, tudo que for bem material, desde aquilo que você realmente precisa até o supérfluo, porém, quando se trata do lado sentimental eles negligenciam e as desculpas podem ser diversas: falta de tempo, excesso de trabalho, ou podem alegar que não sabem expressar suas emoções e por isso o compensam no quesito material.
Às vezes eles podem ignorá-lo, podem não dar a você o amor que precisa e ainda ignorar quando você necessita de ajuda e suporte em momentos difíceis de sua vida.
3 – Além do descaso emocional
Pode ocorrer também de les ignorarem completamente seus sentimentos e necessidades. Muitas vezes a criança ou adolescente, acaba criando um excesso de raiva e confrontando-os acabam por ouvir: “Eu jamais fiz ou faria isso com meus pais”, “Você pensa demais”, “Você ainda é muito jovem, deve superar isso”, entre outras frases típicas que pode ouvir. O abusador vai sempre querer controlar qualquer tipo de emoção da vítima, o sentimento e opinião delas sempre estarão errados, nunca serão validados. A invalidação pode ser tão cruel e devastadora ao ponto da vítima achar que não é digna, tampouco merecedora do amor de seus pais, porque eles nunca estarão à altura para tal sentimento.
4 – Expectativa irreal
É claro que todos os pais querem o melhor para seus filhos, e isso não é errado é saudável sinônimo de apreço e preocupação. Todavia, isso se torna prejudicial quando eles criam expectativas impossíveis, criam seus filhos para serem perfeitos, ou para que sejam uma coisa que não são. Ninguém é perfeito, todos nós erramos todos os dias de nossas vidas, e errando seus pais podem cobrar a perfeição e falhando, podem utilizar da agressão verbal, transformando a vítima em um “incapaz”, porque nunca estarão dentro dos padrões de seus pais.
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Identifique o abusador principal
Quem é mais abusivo com você? É um dos dois? São os dois? Um deles é emocionalmente abusivo enquanto o outro é fisicamente abusivo? Ou os dois são abusivos emocionalmente? Caso sejam os dois, quem é o mais abusador? Se os seus pais são divorciados e apenas um é o abusivo, será que o outro está ciente do que está acontecendo? Será que um é abusivo porque vê o outro se comportando dessa forma?
Observe que, fazendo essas perguntas você tem mais clareza da sua situação e identificando isso fica mais fácil saber quando recorrer à ajuda. Às vezes, como foi dito, eles podem não ter consciência de que suas atitudes estão destruindo seu emocional. Questionar-se pode ajudá-lo a perceber se o problema é ou não esse e assim você pode falar com seus pais do quão abusivos eles são e contornar essa situação, ou, se eles são assim porque faz parte da sua essência, isso ajuda a descartar essa hipótese e partir para buscar uma ajuda de fora.
O abuso pode ser de forma seletiva
Há alguns casos, em que o abuso acontece de uma maneira seletiva, por exemplo, um casal tem dois filhos, porém um é privilegiado e outro é humilhado e agredido moralmente. Isso além de ser humilhante para essa criança pode dar margem a alguns dos sentimentos mais obscuros da humanidade: a inveja e a competição.
Isso acontece por um motivo muito simples: enquanto esse filho for privilegiado, ele vai se sentir muito feliz por não ser a vítima, o que não é para menos, ninguém gosta de ser humilhado e escorraçado; e isso vai motivá-lo a querer ser o melhor (de maneira prejudicial) o que tornará uma verdadeira batalha de ego a fim de alcançar o status de ser o queridinho dos pais.
Uma criança, adolescente vivendo nessa condição pode criar uma sensação de fracasso interno, porque, por mais que tente fazer “o melhor” nunca será suficiente, haverá uma cobrança interna desumana, além do que, desde muito cedo vai aprender a ter ódio e inveja das outras pessoas.
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Pais que privilegiam o filho que erra
Por mais estranho que possa parecer, existem alguns casos onde os pais tendo dois ou mais filhos, privilegiam aquele que age errado, mas vivem dando lições de moral, dizendo para a sociedade o quão correto e decentes eles são, porém, vivem dando valor para aquele filho que transgride as regras dos bons costumes. Ouvimos casos onde um filho estuda muito, trabalha, ajuda nos afazeres de casa, não dá trabalho no sentido de más companhias, vícios, desrespeitar a família, etc., enquanto seu irmão faz tudo errado, muitas vezes beirando à má índole e a dissimulação e ainda assim é agraciado e contemplado, enquanto o filho que tudo ganha xingamentos, cobranças, ofensas, humilhações e todo tipo de infortúnio que o ser humano se sujeita quando tem uma postura vil. Esse cenário tão lamentável e desestruturado cria uma mágoa devastadora, o psicológico sofre muito, uma vez que é difícil manter a mente saudável quando a estrutura familiar é comprometida.
Essas famílias precisam urgentemente de apoio de um bom terapeuta, por vezes, os pais não têm noção dos danos que causam aos seus filhos, o bom adulto depende de uma infância estruturada e não estamos falando de família perfeita de contos de fada, estamos falando de uma família que pelo menos não se agrida mutuamente, que respeite um ao outro, que não é porque é pai ou mãe têm o direito de tratar seus filhos como inferiores. Nós não podemos, de forma nenhuma, colocar nossas frustrações e expectativas em nossos filhos, eles não pediram para nascer, se eles existem foi por nossa responsabilidade e não deles.
E se você de alguma forma se identificou com alguma ou todas as situações, procure ajuda, procure uma terapia, um bom terapeuta que possa reorganizar suas ideias, resgate sua autoestima. Você não é o que falam sobre você, não deixe que a projeção dos outros recaia sobre si, somos mais fortes do que tudo isso e por mais difícil e doloroso que possa ser, é mais fácil você se afastar da sua família do que continuar engolindo todo esse lixo tóxico, toda essa dor e mágoa. Viemos a esse mundo com o propósito de evoluir como seres humanos e, sobretudo, sermos felizes, e felicidade nunca estará perto da destruição do outro. Quando a sombra habita o ser humano, não há espaço para a luz interna.
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