Como fazer para ver as coisas por uma perspectiva otimista, sem negação da realidade?
Imagine a situação: uma menina de onze anos, que já havia perdido a mãe, acaba de perder o pai, um pastor de uma igreja local, e se vê sozinha no mundo. É enviada para morar com uma tia, irmã da falecida mãe, que a aloja em um pequeno, quente e escuro quarto de uma casa na qual havia outros tantos melhores. A tia a trata com frieza e austeridade, além de puní-la por eventuais descumprimentos de regras de etiqueta.
Em determinado momento, sofre um atropelamento que resulta em paralisia das pernas. A história se passa em 1913, em uma pequena cidade dos Estados Unidos da América.
Quem não a conhece imaginaria uma menina amargurada, revoltada com tudo e com todos por ser tratada de forma injusta pela vida, sendo, provavelmente, uma versão de 1913 de Junior Healy, mais conhecido como “O Pestinha”. Seria uma expert em explodir coisas com um pouco de fermento, uma lupa e um chiclete no melhor estilo MacGyver, além de elaborar fugas do quarto e roubos de biscoitinhos de fubá com nata de leite.
Entretanto, já é sabido que Pollyanna apresenta um comportamento completamente diferente.
Quem leu o livro de Eleanor H. Porter conhece o “jogo do contente”: tomar uma perspectiva otimista diante de qualquer acontecimento. Ficar contente com duas muletas de presente, quando na verdade se esperava ganhar uma boneca, parece forçar muito a barra. É de nossa índole sentirmos dessa maneira quando lemos essa passagem no livro.
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Seria ver o mundo “cor de rosa” quando na verdade se está dentro de uma casa incendiada, com pólvora no porão. Porém, a intenção da autora é levantar um questionamento que muitas pessoas já se fizeram: como faço para ver as coisas por uma perspectiva otimista, sem negação da realidade?
Ryan Holliday mostra que é possível encarar os acontecimentos de uma forma objetiva, tirando proveito de que quer que se apresente. Em seu livro “O obstáculo é o caminho”, baseado nos ensinamentos da filosofia estóica de Epíteto, Holiday mostra que para tomar uma posição que nos favoreça, basta alterar nossa percepção daquilo que nos aflige.
Em outras palavras, adotar uma postura mental objetiva, que nos favoreça de alguma forma.
A necessidade de se analisar objetivamente os fatos tem uma importância singular: determinar o que está sob meu controle e o que não está.
Epiteto já dizia para nos preocuparmos com aquilo que está sob nosso poder (minha forma de ver a vida, minhas decisões, minhas vontades) e aceitarmos aquilo que não está (a chuva, um engarrafamento, um chefe mandão).
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O interessante dessa proposição é que, a medida em que a prática, a diferença entre o que está sob seu poder e o que não está desaparece. Ou seja, você tem poder sobre todas as coisas, na medida do seu poder sobre si mesmo. Pollyanna escolheu, conscientemente, ter o controle daquilo que ela própria poderia controlar: sua visão de mundo, suas emoções, suas ações. Tal fato deu a ela poder sobre a pequena cidade de Beldingsville, o que se percebe na mudança de comportamento da população, para melhor, devido a presença da menina.
Para finalizar, um antigo conto citado por Holiday em seu livro: um rei se mostrava insatisfeito com a postura dos súditos, que se mostravam indolentes e arrogantes. Um dia, com intuito de disciplinar seu povo, colocou uma pedra grande que bloqueava completamente a única estrada de entrada e saída do reino. Escondendo-se para observar a reação dos transeuntes, cada vez mais se decepcionava: uma a uma, as pessoas se deparavam com o obstáculo e retornavam o caminho de volta, queixando-se do rei, da própria sorte ou lamentando-se do ocorrido. Passaram-se alguns dias até que um camponês se deparou com a pedra e, com ar de obstinação, forçou-a para o lado sem resultado algum. Parando um instante e olhando em volta, observou um bosque com algumas árvores caídas. Foi até lá e voltou com um tronco grande que havia entalhado na forma de um pé de cabra. Utilizou-o como alavanca para mover a pedra maciça e, logo após o feito, encontrou uma bolsa com moedas de ouro e um bilhete que dizia:
“O obstáculo no caminho é o caminho. Dentro de cada obstáculo existe a oportunidade para melhorar sua condição.”
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