Estava sentada tomando meu chá quando ouvi meu pai dizer: “Filha, está chovendo, e há roupas no varal”.
Eu, em minha calma tomei mais um gole de chá, vi que já passava das 19:15h e sorri para o celular que anunciava uma nova mensagem, enquanto minha mãe prontamente soltou a panela na pia, secou as mãos no primeiro guardanapo que encontrou e foi para o quintal recolher a tal roupa, enquanto berrava: “Ah, meu Deus! Uma hora dessas? A roupa não vai secar! Ah, não acredito! Vou perder o amaciante!”
E foi observando o “desespero” de minha mãe sobre o acontecido que comecei a refletir sobre nossa mísera condição humana.
Não somos capazes nem mesmo de ao menos dizer à chuva que permaneça nas nuvens, ao invés de vir aqui para baixo, pois lavamos a roupa. Temos de construir uma área própria para estender as peças lavadas ou orar muito e recitar 3 Salmos na esperança de que a chuva permaneça lá em cima, afinal, ela não está limitada às nossas vontades.
Após recolher as roupas, dobrá-las e continuar ouvindo minha mãe comentar sobre o bendito amaciante perdido, troquei o chá por café e comecei a pensar sobre quantas coisas considerava falhas naquele momento.
Bem, eu não tenho meu próprio carro, nem a casa dos sonhos, e não recebo R$ 12.000 (nem mesmo ao ano). Não tenho um estoque das minhas balas favoritas, nem a fama de J.K. Rolling e também não voo como o Superman. São tantos “nãos” que, por vezes, os “sims” parecem nem existir.
E então pensei sobre o filme que assisti no dia anterior, onde uma jovem luta com unhas e dentes pelo emprego dos sonhos, e quando o consegue, compra seu primeiro apartamento. Bonita, bem-sucedida e jovem. Tudo lhe parece bem. Mas então, em meio ao seu auge, a empresa que é a ramificação de uma filial em outro país encerra suas atividades, deixando-a desolada, abalada emocionalmente, triste e com medo.
Mas o que esta mesma jovem não sabia é que o fechamento desta porta lhe traria a abertura de outra tão maior e mais ajustada à sua necessidade. No filme, ela (a moça) canta na noite, e após o encerramento das atividades da empresa, um grande empresário a descobre e dá início à sua carreira.
O que estou lhe dizendo é que o encerramento de um ciclo obrigatoriamente marca o início de outro. Quando um período de tempo termina, os ponteiros não deixam de correr o relógio; pelo contrário, eles reiniciam o movimento, porém, marcando outra hora.
Talvez o que lhe foi reputado por perda seja, na verdade, um livramento, e até mesmo uma nova oportunidade para fazer da maneira correta. Mas para conseguir enxergar além do que os olhos veem, é preciso antes de tudo acreditar, pois, quando ‘enfiamos na cabeça’ que algo é daquele jeito, nada é capaz de mudar.
Logo, se nos limitamos a aceitar apenas o chão tirado dos nossos pés, teremos de arcar com o peso de caminhar, sem saber se há no que pisar.
Não estou dizendo para que ao perder o ônibus acredite que na próxima esquina haverá uma Ferrari com as chaves no contato, de portas abertas lhe aguardando. Mas, caminhe.
Ao invés de reclamar milhões de vezes sobre o ocorrido e publicá-lo em suas redes sociais, tente algo diferente, nem que seja ao menos uma vez.
Quanto mais agoramos uma situação, mais coisas ruins atraímos para perto de nós. Ao dizer palavras duras e acreditar firmemente que o acontecimento daquele fato trará uma sucessão de outras coisas difíceis, automaticamente, lançamos sobre nós mesmos o peso da ansiedade de aguardar por algo que pode acontecer de maneira totalmente diferente, e, apesar da angústia primária, nos trazer felicidade num segundo momento.
Deus sabe o que está fazendo. Lá de cima, assentado observando sua criação, ele vê não apenas o presente momento, mas também às 22:17 do dia 31 de outubro de 2059 da vida de cada um de nós.
Por isso, ele sabe a hora de nos manter perto de algo, alguém ou uma situação, e também o momento de nos forçar a afastar-nos. Sabe quando precisamos comemorar o excesso, e quando é preciso aprender a contentar-se com pouco. Sabe o minuto exato de nos impedir a entrada em um lugar, e também o de fazer com que nada nos impeça.
Não permita que o pânico entre em seu coração e lhe roube a paz. Não se desespere com o que acontece e nem com o que deixou de acontecer. Espere, respire, confie. Em tudo há um propósito maior. Sei que é difícil acreditar, mas este caminho curvo, íngreme e escuro em algumas partes lhe levará para a pessoa que você tanto almeja ser.
“Você não compreende agora o que estou lhe fazendo; mais tarde, porém, entenderá”. – João 13:7
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