Por que temos tanto medo de dizer não?
Vivemos em uma sociedade onde dizer “não” é estressante devido à incapacidade de se entender e aceitar que nem sempre é possível fazer favores ou estar disponível. Vários fatores influenciam nessa decisão, como o tempo, o humor e a relação entre as pessoas, mas a grande mentora das desculpas esfarrapadas é a culpa.
Então, alguém nos pede um favor ou faz um convite que sabemos que não poderemos cumprir, em vez de resolver com uma simples negação, damos início a uma bola de neve de escusas. “É uma boa!” “Quem sabe?” “Eu te ligo.”
Tem aqueles que, inclusive, confirmam, mas depois deixam no vácuo, até no WhatsApp, porque simplesmente têm uma enorme dificuldade de negar compromissos. Então, criam uma atmosfera ruim, prejudicam a relação, ficam nervosos e incomodados cada vez que a pessoa insiste e, às vezes, pode se transformar em uma grande briga, algo que poderia ser resolvido com um comum: “Desculpe-me, não posso.”
Atitudes assim enfraquecem nossa palavra e podem, até mesmo, colocar nosso caráter em dúvida. A cada cobrança, uma nova desculpa para encobrir a leviandade anterior. Mais do que gerar um desconforto para quem nos solicita, criamos estresse e ansiedade para nós mesmos. Desperdiçamos nosso tempo fingindo e fugindo da pessoa. Isso nos impõem um desgaste de energia totalmente desnecessário e negativo.
Na tentativa de não perder interesses ou não chatear o outro, acabamos por ferir muito mais com uma personalidade vulnerável, com a falta de compromisso e a fraqueza de não saber manter a própria palavra.
Mas existe um outro lado dessa moeda. A incapacidade de se aceitar o “não” devido à muita fragilidade e falta de autoestima. Não compreendemos que a impossibilidade do outro não tem nada a ver com a gente e, por isso, levamos para o lado pessoal. Assim, em vez de respeitar a decisão alheia, instintivamente criamos um desejo de revanche. Então, esperamos pelo momento certo para devolver o não, por pura frustração. Ou punimos com outras atitudes, outros cortes. Somos indiferentes não pelo desinteresse, mas por pura mesquinharia. Mudamos o modo de tratar um amigo e prejudicamos uma relação saudável por um ego frágil inabilitado para o não.
Saber dizer e aceitar uma negativa é muito mais maduro. Caso não aceitarem seu não, virarem a cara ou não o procurarem mais, melhor. Isso certamente o levará a relações mais verdadeiras, adultas, porque compreender um não é respeitar, dar desculpas furadas é infantilidade, quando não fere a índole.
Portanto, nada melhor do que ser sincero e tirar o peso de uma responsabilidade que a gente não quer ou não pode assumir, simplesmente, dizendo não. Entretanto, deixe a culpa de lado e fale com amor, educação. Da mesma forma, aceite com lucidez a impossibilidade do outro. Pense nas tantas coisas que já fizeram juntos, nos tantos galhos quebrados.
Responda “tudo bem, fica para a próxima” e a vida segue sem bateção de portas e com mais portas abertas, até porque, aceitar um não pode nos trazer muitos outros “sins”.
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