Perdoar é uma das coisas que preciso aprender. Perdoar é desprendimento. É aprender a juntar todo o lixo que deixaram antes de irem embora, colocar num saco e jogar fora.
Mas eu tenho mania de guardar. Coleciono histórias, momentos e tudo aquilo que é lixo e teimo em jogar fora. Coleciono as mentiras, coleciono as promessas, coleciono as expectativas e as histórias que vivemos juntos.
Mesmo que junte tudo isso que ficou, coloque num saco e coloque no lixo, ainda assim, uma parte de mim quer deixar guardado dentro de uma gaveta qualquer do armário.
Eu entendo pessoas assim. É complicado, de uma hora para outra, desfazer-se de todas essas coisas quando o outro já se foi.
É complicado colocar dias, semanas, meses e anos no lixo. Porque, no fundo, é tempo que vai dentro do saco de lixo que botamos fora.
Por mais que hoje se consiga reciclar as coisas, ainda não se recicla tempo. Ainda não se reciclam promessas, expectativas e histórias. Vai tudo pro lixo. E, na conta geral da vida da gente, fica a pesar esse tempo que se foi.
O que aprendemos é o mais importante. Vai fazer-nos fortes. De repente, mais resilientes. De repente, até um pouco mais espertos. Mas, na verdade, esse tempo investido não se recupera. E é essa consciência que mais magoa e atrapalha na nossa recuperação e virada.
Perceber que esse tempo se foi e não voltará é uma das partes mais fortes dentro de todo o processo. E quando essa consciência chega é o ponto da virada. Ou se aproveita esse trem ou ficamos ali, a esperar qualquer coisa, que jamais virá.
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Eu aconselho sempre a pegar o trem. Eu nunca penso duas vezes. É uma questão de sobrevivência.
Eu não vim para esse mundo para jogar tempo fora. Posso perder dinheiro e oportunidades, às vezes. Mas nunca tempo.
Mesmo quando teimo e perco tempo, ainda assim, eu ganho. Ganho experiência para poder viver o tempo que tenho, de uma maneira melhor que até aquele momento.
Podemos viver muito ou pouco tempo. Entretanto, o que importa mesmo é o que fazemos do nosso tempo. Já vivi uma noite que valeu por dez anos mal vividos. Já vivi oito anos que serviram apenas como experiência do que eu não quero pra mim e pra mais ninguém. Já vivi oito minutos que decidiram a minha vida de uma forma que me fez acreditar naquilo que não posso ver com os olhos, apenas com a alma.
Temos que aprender a ser luz, daquelas que brilham muito e até cegam, quando o sol teima em se esconder. Gosto das coisas teimosas porque desafiam a minha teimosia em seguir naquilo que acredito. Numa época em que acreditar é tão ou mais volúvel quanto uma das nuvens do céu, é de se esperar encontrar pessoas que nos desafiem a irmos contra à grande maioria infeliz que anda sem saber pra onde, hoje em dia.
Viver é usar todas as tintas, todas as cores, usar todas as folhas de papel disponíveis e preencher todos os espaços. É guardar histórias, não para se prender nelas, mas fazer melhor e diferente, quantas vezes forem necessárias, para sermos felizes hoje.
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Como naquele filme, quando perdermos a fé em nós mesmos, que a gente corra até um espelho, olhemos bem fundo dentro dos nossos olhos, e depois de um grande abraço sentido e acolhedor, eu reconheça e você também, como sendo o melhor resultado, a melhor pessoa e a melhor escolha pra gente mesmo e, sem alternativa, o mundo só possa aceitar essa nossa decisão.
Vai chegar o dia em que vou conseguir colocar no lixo tudo aquilo que você deixou. Só posso jogar fora depois que encontrar o que se perdeu pelo caminho. Mas por hora, está tudo num saco, dentro à beira da porta à espera da altura ideal de ir embora o que já não faz mais sentido.
O tempo, esse meu grande parceiro desta minha vida, está a correr ligeiro e só posso prometer que serei mais cuidadosa comigo mesma.
Do meu coração cuido com carinho e levo comigo, porque estou a procura do que me faz falta.
Enfrento frente a frente, o que eu sou e que eu fui, em busca daquilo que serei. Só com essa grande faxina, esse grande enfrentamento é que vai ser possível ser o que precisamos ser.
Jogar fora o que já não é e o que deixaram antes de partir.
É estranho sentir tudo, vibrar na pele, penetrar na alma, e não saber o que fazer a seguir. Ainda.
Contudo, todas essas coisas passarão. Eu juro.
Direitos autorais da imagem de capa: Dmitry Ratushny on Unsplash