O padre Fábio de Melo foi alvo de insultos numa rede social e para preservar a saúde, precisou deixá-la. Fico triste porque além de ser uma pessoa maravilhosa, que nos ensina e nos ajuda a ser pessoas melhores, é alguém que, como nós, tem suas cicatrizes e precisa de amor, respeito, compreensão, paciência e cuidado. Dedico este texto a ele.
Infelizmente, as redes sociais (e o mundo em geral) viraram um campo minado. Eu gostaria de compartilhar uma sabedoria para ajudar todos que passam por situações parecidas. É também um convite para pensarmos se o que vamos comentar é uma luz ou uma pedra.
“Se não puder falar com respeito e amor, espere até que possa.” (Amma)
Você se lembra da brincadeira telefone-sem-fio? Eu descobri recentemente que ela era um treinamento para a vida adulta. Você fala uma coisa, o ouvinte assimila outra e retransmite uma terceira coisa.
Eu participei de uma live esportiva, onde o jornalista disse: “Eu tenho a impressão de que o Tite não gosta do futebol do Lucas.” Em pouquíssimos minutos, a live bombou de insultos ao Tite, era um absurdo ele não gostar do Lucas. Numa fração de tempo, a impressão de um jornalista sobre o técnico não gostar do estilo de jogo do atleta virou uma certeza de aversão do técnico em relação à pessoa (do atleta).
Percebe o telefone-sem-fio aqui? A gente acaba fazendo isso no dia a dia, sem perceber, prejudicando a nós mesmos, inclusive.
A saída de emergência envolve conhecer a si mesmo, mas acima de tudo, ela surge diante de uma pausa para interpretar as coisas de forma menos automática e explosiva.
Cinco segundos respirando fundo é o bastante! Talvez não seja possível calar todos os cães, mas você não precisa tacar pedra em cada um deles.
Nossa maneira de digerir o que os outros falam e as coisas que acontecem é muito importante para nossa paz interior, autoestima, autoconfiança, amor-próprio e até fé em si mesmo! Uma coisinha num dia pode não afetar em nada, mas várias coisinhas ao longo dos anos são diabolicamente destrutivas! Por outro lado, pequenos cuidados diários aprimoram nossa saúde.
Quando o filósofo disse “conheça a ti mesmo”, ele estava nos ensinando a maior lição espiritual de todas. Porque quando você sabe quem você é, não é qualquer um que lhe diz quem você é. E “qualquer um” não é só pessoa, é situação, números, saldos, notas, etc.
Você não é burro porque não foi bem em determinada prova; você só não estava preparado. Você não é sem valor porque alguém não o tratou com respeito; você tem valor, merece, pode e vai ser amado, só não foi por aquela pessoa – talvez porque ela é vazia demais. Você não é um fracasso porque não conseguiu êxito em um projeto; você só não conseguiu fazer dar certo ainda.
Então, o outro não gostar de algo que você gosta, não significa que este algo seja ruim, muito menos que você é inferior por isso. São apenas gostos! Os números no banco não significam que você é um fracasso! O “não” de uma empresa não é sinônimo de você-não-serve-portanto-é-imprestável. A não-resposta de alguém não significa que você não tenha importância…
Algumas pessoas estão tão na defensiva, que atacam os outros para se defender. Às vezes é porque, sei lá, o outro disse que não gostou da roupa dela, e ela já interpreta que, então, ela está malvestida, e, portanto, feia. Feia é a mãe dele (que ela nem conhece)! Sabe?
Se o outro fez um comentário chulo, deixe-o com sua amargura. A roupa é sua, ela é linda, combina com você, faz seu gosto E chamou a atenção, ao ponto de o outro se incomodar e fazer um comentário estúpido. O mesmo vale para outras coisas. E daí que você não estaciona bem? E daí que seu arroz saiu papa? E daí que…?
Ser perfeito não é sua missão. Ser feliz, verdadeiro, livre e pleno, contudo, é seu direito.
A maneira que você se trata gera uma energia que atrai pessoas/situações com energia semelhante, o que significa que elas vão te provocar e tratar do mesmo jeito. Trate-se bem!
Pense: como você interpreta as coisas que lhe acontecem? O que você tem dito para si mesmo quando coisas ruins acontecem? Levei uma bronca no trabalho. E a interpretação que você faz é “não faço nada direito”. Ou, “levei uma bronca porque falhei. É chato, mas tudo bem, afinal, eu sei fazer isto e vou fazer muito melhor nas próximas vezes, como já fiz tantas vezes!”
Perspectiva…
E quanto ao que você fala para as outras pessoas? Elas as incentivam a serem melhores ou as empurram para a insegurança, pessimismo, tristeza e dor?
Vez ou outra, acontece de alguém lhe fechar no trânsito. Sua interpretação pode ser de que ele fez por maldade, mas, às vezes, ele fez porque é inseguro ao volante, porque está lidando com uma situação de medo e estresse.
Se não puder falar com respeito e amor, espere até que possa.
Não permita que os outros, os números, as revistas, os “nãos” e quem quer que seja diga que você é uma coisa que você não é. Conheça a si mesmo. Saiba o seu valor, saiba quem você é! E tenha muito cuidado para não se enforcar com a própria percepção neste telefone-sem-fio.
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