Seja lição na vida de alguém.
Definitivamente, eu não sei guardar mágoas, sim, eu até acredito que isso seja uma coisa boa, afinal, tenho menos chances de me tornar uma pessoa amargurada. Mas pode ser que esse meu jeito dê margem a muitas interpretações alheias, e não sejam muito positivas, dependendo do ponto de vista de que interpreta.
O que acontece? A pessoa pode ser muito má comigo, então, na hora do ocorrido, eu sinto raiva, vontade de ver o seu mal, talvez, sim, eu xingo também, ah como eu xingo, eu me afasto, enfim, expresso todas as reações normais de alguém que se sente ofendido de alguma forma. Porém não sei carregar isso comigo por muito tempo (não que eu queira aprender).
Torcendo pelo sucesso dos inimigos
Não, eu não esqueço o que aconteceu, o que fizeram, quem fez, mas também não tiro minha contribuição errônea para que muitas dessas coisas pudessem acontecer. O fato é que eu não deixo de torcer pelo bem dessas pessoas, não deixo de ficar feliz pelas suas conquistas, por mais que eu não faça parte de absolutamente nada.
Acredito que as coisas acontecem como têm que ser, não sou do tipo de gente que crê em coincidências, pelo contrário, tenho fé em destino, ou seja, num caminho que certamente já foi traçado para nós, e nele precisamos aprender todas as lições, então contratempos, acidentes, imprevistos, pessoas que nos ferem, que talvez até nos atrasem um pouco, tudo tem um por quê.
Pode ser que 90% das vezes não conseguimos entender o real motivo de estarmos em tal situação, mas, com o passar do tempo, começamos a desenvolver outras perspectivas sobre o ocorrido e, de alguma forma, nossas ações e a de terceiros se tornam mais bem aceitáveis.
O tempo não cura
Esse é um dos motivos de eu colocar em contestação essa mania que as pessoas têm de falar que o tempo cura. Em alguns momentos, passamos por decepções tão grandes, mas que conseguimos nos restabelecer de uma forma muito rápida e sadia. Onde entrou a cura do tempo nessas situações?
Concordo que há pessoas e pessoas, algumas, com os pés fincados no chão, terão mais “facilidade” de encarar os fatos, apesar de existir muita gente que julga quem se recupera rápido, como se não tivesse realmente sentido dor. Isso é injustiça, inclusive.
Para outras, pode ser que demore mais a sua superação, porém a aceitação para tudo nessa vida vem de dentro de nós. Sendo assim, uma pessoa que não aceita o fim de um relacionamento, por exemplo, tende a sofrer por muito mais tempo. Pensemos da seguinte forma: alguém que é demitido de um emprego e não aceita isso leva muito mais tempo para procurar novas oportunidades e até para se adaptar quando elas chegam.
E isso não é culpa do tempo em si, mas a forma como cada pessoa encara a vida, como enxerga as coisas e se planeja para se reinventar.
Não pensem que estou julgando, longe de mim, as coisas funcionam dessa forma mesmo, seria realmente um saco se todos fôssemos iguais.
Acho que quem se martiriza demais com determinados acontecimentos prolonga o sofrimento, permite-se focar muito na dor, tornando-se uma pessoa mais triste, arisca, e com isso criando uma barreira emocional tão grande e forte que, por várias vezes, não é capaz de desconstruir tudo isso, o que atrai outras frustrações, porque questiona-se sobre ser capaz de ser inteiro novamente, começa a acreditar que nunca vai se realizar na vida, no amor, no ambiente profissional.
Confesso que tenho um pouco de medo de ter esse tipo de raciocínio um dia, sim, porque todos nós podemos passar por isso, e não é uma questão de se entregar, mas algo que simplesmente acontece. Talvez por sentir esse temor, eu procure guardar coisas boas, momentos bons, e até pensar que eu servi de lição na vida de algumas pessoas, afinal quem se julgou errado por ter feito algo para mim pode ser que não cometa mais os mesmos erros.
Sem contar toda a energia que emanamos quando pensamos em alguém positivamente. Há quem diga – e eu acredito – que essa energia se torna algo tão grande e forte que aquela pessoa, que se faz dona dos nossos pensamentos, naquele momento, sinta-se confortável de alguma forma e, mesmo inconscientemente, solte uma reação de alívio por meio de uma respiração que lhe traz paz instantânea ou daquele sorriso involuntário que soltamos. Às vezes, sem nenhum motivo aparente, surge aquela calmaria que faz nossos olhos brilharem.
Há um lado positivo em tudo
Sei que não existe uma receita para se curar ou evitar que as coisas ruins aconteçam, mas a forma como lidamos com elas, com certeza, muda tudo. Não sou a melhor pessoa para aconselhar, apesar de ser procurada com esse intuito com certa frequência. E, apesar de parecer clichê, o que costumo falar para essas pessoas é que elas devem ver sempre o lado positivo de tudo.
Obviamente que eu, por não ter um autocontrole tão bom quanto gostaria, acabo falando com as pessoas que me ofenderam ou me prejudicaram, seja lá qual for o histórico, mas acredito que a vida é muito curta para ficar guardando maus pensamentos. Se fico feliz por alguém, eu demonstro, sim, não tenho problemas com isso, menos ainda de sentir essa felicidade, por mais que, às vezes, seja mal interpretada.
Gratidão
A questão é que sou grata por tudo o que me acontece, sou grata por poder viver tudo o que vivo, pelos detalhes, pela simplicidade, pelo simples fato de poder ver a Lua Cheia em um céu estrelado. Tenhamos absoluta certeza de que agradecer por acordar e por ir dormir todos os dias é um convite extremamente grande para as coisas boas do que simplesmente só pedir.
Comece a se sentir privilegiado por viver tantas coisas, saiba que só leva pedrada árvore que dá fruto, perceba quão grande e rico é ser uma pessoa que serviu de lição na vida de alguém. Involuntariamente, sempre que se lembrarem de você, vão remeter ao pensamento de não fazer mais isso, pois, sem que percebamos, a vida nos coloca no papel de professores e, por mais que doa em nós, alguém aprendeu a não mais ferir. E ser essa lição na vida de alguém não tem preço.
Acredite e sinta-se feliz por isso, afinal muitos nunca sairão do papel de aluno.
Direitos autorais da imagem de capa: Ben White/Unsplash.